Para alguém com nível descendente de açúcar no sangue e nos primeiros estágios de desidratação, Eva Roma, 33 anos, se mostrava bastante estoica ao começar sua uma hora e meia de viagem para ir da casa ao trabalho, no centro de Jacarta.
A jornada começa com um trajeto de uma hora em um ônibus público no qual somente se viaja em pé, seguidos por 25 minutos em uma minivan e, por fim, cinco minutos de caminhada, saindo de sua casa, no longínquo confim sul da capital indonésia.
Quando chegou ao destino, Roma, muçulmana que trabalha como secretária em uma empresa de serviços financeiros, planejava o "buka puasa" - a refeição realizada à noite para quebrar o jejum durante o mês sagrado do ramadã. Ir ao trabalho na manhã seguinte seria ainda pior, pois o deslocamento costuma demorar duas horas.
A viagem diária, ainda mais quando se abstém de comer ou beber o dia inteiro, tem seu preço, disse Roma. Entretanto, faz tempo que ela se acostumou à realidade física do transporte em Jacarta, onde o tráfego horrendo e o sistema de transporte público ineficiente condenam muitas pessoas a sentar em carros, ônibus e minivans ou motocicletas por quatro horas por dia, ou mais, durante o ano inteiro.
- Eu fico estressada com isso, mas como o governo não faz nada a respeito, temos de aguentar - disse Roma.
Com uma grande área metropolitana de 28 milhões de habitantes, Jacarta é uma das poucas grandes cidades do mundo sem um sistema de trânsito rápido, apesar de os planos remontarem à década de 1980. O substituto mais próximo, o corredor de ônibus de Jacarta, transporta menos de 400 mil pessoas por dia. E a faixa exclusiva dos horários de pico, quando as ruas ficam paradas, não ajuda, enquanto carros, motocicletas e até mesmo veículos do governo, política e das forças armadas transitam ilegalmente sobre os minúsculos obstáculos de concreto que deveriam bloquear essa ação, atrasando ainda mais os ônibus.
Não causa espanto, então, que 9,9 milhões de carros, motocicletas, caminhões e outros veículos tomem as ruas da capital todo dia útil, segundo a Agência de Transportes de Jacarta; desse total, aproximadamente dois milhões vêm de municípios vizinhos nas províncias de Java Ocidental e Banten.
Contudo, a ajuda finalmente pode estar chegando. Jacarta, o governo indonésio e consórcios de investidores privados estão injetando US$ 4 bilhões em projetos de infraestrutura de transporte público programados para entrar em operação entre outubro e 2015. O programa inclui o primeiro estágio do metrô e um sistema de trilhos acima da terra ligando o sul e o centro de Jacarta, dois projetos de monotrilho, um trem expresso ligando o centro da capital ao aeroporto, e um trem elevado circulando nos limites do centro da cidade, que seria então ligado a linhas de trem de subúrbio a oeste, sul e leste da cidade.
- Sempre existe luz no fim do túnel, e o túnel está ficando maior - disse em entrevista Bambang Susantono, subministro dos transportes da Indonésia.
- Com a melhora na economia indonésia, temos espaço para tocar esses projetos. - refletiu Susantono.
Também existe vontade política. Durante décadas, o governo indonésio ignorou o transporte como prioridade política, mas tudo mudou quando o presidente do país, Susilo Bambang Yudhoyono, assumiu em 2004, afirmou Milatia Kusuma Mu'min, chefe de comunicação da Sociedade de Transporte da Indonésia, um grupo de defesa. Além disso, a descentralização permitiu que líderes locais, tais como Joko Widodo, governador de Jacarta, exercessem mais autoridade na execução de obras públicas, garantiu Mu'min.
Porém, como os trilhos do metrô não devem entrar em operação antes de quatro anos, e com a maior prosperidade aumentando o número de automóveis e motocicletas nas ruas, os especialistas em transporte asseguram que a curto prazo o congestionamento só deve piorar.
Essa perspectiva traz esperança e desespero para os motoristas e os trabalhadores de Jacarta.
- Acho que o governo de Jacarta pode fazer algo a respeito. Eu tenho esperança. - disse Roma, enquanto se apertava em um ônibus lotado ao voltar para casa.
Simon Hendiwan, 32 anos, gerente de escritório no centro de Jacarta não concorda. Não disposto a enfrentar as longas filas e o calor sufocante dos trens de subúrbio, ele dirige uma Kijang Innova, da Toyota, para trabalhar toda manhã, saindo do subúrbio ocidental da capital. Ele demora 90 minutos para percorrer os 14,5 quilômetros.
- Não existe saída para Jacarta nos próximos cinco anos se o governo não se apressar - ele afirmou abastecendo o tanque em um posto de combustível antes da viagem de volta em meio ao rush da tarde do mês do ramadã.
O ramadã só piora os problemas de trânsito. Aproximadamente 90 por cento dos 240 milhões de indonésios são muçulmanos e durante o mês sagrado os trabalhadores podem sair mais cedo para encontrar os amigos e familiares e quebrar o jejum diário.
Isso significa que milhões vão às ruas entre 15h e 16h. O centro de Jacarta parece um estacionamento toda tarde desde o começo do ramadã, em dez de julho. As cenas diárias no Jalan Sudirman, principal corredor norte-sul, incluem gestos obscenos, quase colisões enquanto ônibus particulares ocupam espaços vazios aparentemente impossíveis, sem mencionar as buzinas ensurdecedoras que enraivecem os policiais do trânsito enquanto estes tentam fazer as coisas se movimentarem.
E ainda tem a época das monções, na qual aguaceiros inundaram a estrada pedagiada até o aeroporto internacional, deixando os motoristas sentados durante horas a fio.
O tempo das viagens poderia ser reduzido de forma significativa se o corredor de ônibus não fosse invadido por veículos sem autorização. Na mesma tarde em que Roma tentava voltar para casa, a faixa estava tão lotada de carros que os ônibus se arrastavam na mesma velocidade das caravanas de veículos das outras pistas.
Como que para provar o argumento, Dian Anggraini, 29 anos, cobradora do ônibus, desembarcou e correu até um caixa eletrônico na rua. Cinco minutos depois, ela voltou ao ônibus, que não tinham avançado nem sequer cem metros.
- No geral, o problema é o tráfego que entra no corredor de ônibus, é isso que precisa ser consertado - Anggraini afirmou após retomar o posto.
- Muitos passageiros afirmam que é mais fácil tomar nosso ônibus do que encarar a loucura do lado de fora - disse.