Foi depois do horário de expediente em Austin, no Texas. O sol estava se pondo, e a música vinha da East Sixth Street, uma rua com bares e clubes com nomes que a sua criança interior teria vontade de gritar bem alto: Chuggin Monkey, Dizzy Rooster, Jackalope... Fechado ao trânsito, o trecho era perfeito para músicos, promotores de festas e gente à procura de cerveja e diversão. Aos poucos, elas foram encontrando, desaparecendo dentro dos bares e ressurgindo nas sacadas, bebericando em copos de plástico e vestindo as jaquetas leves conforme soprava a brisa de março, lembrete de que a primavera não estava tão perto assim.
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A maioria desses festeiros (eu incluída) não estava de férias, apesar da cerveja na mão e das festas que iam varar a madrugada adentro. Nós estávamos ali para participar da South by Southwest (SXSW) Interactive, a conferência de tecnologia onde empreendedores e executivos trocam ideias - e, embora as conferências e festivais como o SXSW, Aspen Ideas Festival, WebVisions, TED (Tecnologia, Entretenimento, Design) e dezenas de outros há anos ajudem a impulsionar carreiras, eles também são uma ótima (e subestimada) opção de viagem de férias, principalmente para quem viaja sozinho.
Pense só: os locais (como Austin, Aspen e Nova York) são destinos turísticos famosos, há atividades de entretenimento (degustações, caminhadas, coquetéis) e - o mais importante - atraem gente com um tema em comum. Mesmo que você seja tímido, com tantas reuniões e palestras (sem falar no tempo que se passa na fila esperando para entrar), a coisa mais fácil é puxar papo.
Aquele giro de 965 quilômetros de bicicleta pela Europa? Não é a única maneira de conhecer gente que curte o mesmo que você.
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Cidades novas, contatos novos
O estranho que você conhece numa conferência pode se tornar seu amigo por uma hora, uma tarde, alguns dias. Pode se tornar um amigo do Facebook em quem você dá curtidas a mil quilômetros de distância ou alguém que você vai visitar todo ano até o fim da vida. Olha só, ele (ou ela) pode virar até seu marido (mulher).
Como, então, encontrar pessoas mais parecidas com você? Conferências bem organizadas não oferecem só palestras e workshops: há também corridas matinais, excursões e jantares.
- É tipo o Club Med dos intelectuais - define Rachel Shechtman, fundadora da Story, uma boutique de Manhattan.
Ela já participou de eventos como TED, PopTech e Gel (Good Experience Live) por causa do negócio e acabou conhecendo alguns de seus amigos mais íntimos.
- Tem tanta gente interessante dando sopa, que, mesmo que você seja a mais introvertida das criaturas, acaba se soltando porque o ambiente e o tema da conferência acabam estimulando o diálogo - disse ela a caminho da palestra que daria sobre o futuro do varejo na TEDx Hollywood.
Até onde isso pode ir, ninguém sabe: Chelsea Clinton - a filha do casal Bill e Hillary - e o marido, Marc Mezvinsky, conheceram-se na adolescência durante o festival de ideias multigeracional Renaissance Weekend. E, embora seja um dos "casais de conferência" mais famosos, não é o único: todo mundo sabe que nesses eventos os namoricos são inevitáveis.
Nem todo mundo se apaixona, mas muitos se divertem tentando. Na SXSW Interactive, por exemplo, você pode passar a manhã inteira conversando com alguém sobre "coding" e "crowdfunding" e, horas depois, estar encenando a sequência Oh, Lover Boy de Dirty Dancing - Ritmo Quente.
É como diz Kathryn Irwin, que participou da SXSW pela primeira vez em 1994 e não perde uma edição desde 2000:
- O resultado foram alguns bebês, muitos namoros e inúmeros rolos.
Não necessariamente nessa ordem. Depois de se separar do marido, em 2009, ela resolveu entrar para o "time da azaração" da SXSW.
- E fiquei de queixo caído de ver quanto homem bonito tinha ali - brinca.
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Atividades dentro e fora dos centros
As melhores conferências para se conhecer alguém são aquelas em que há muitos participantes e atividades, tanto dentro quanto fora do centro de convenções. De fato, os mais experientes afirmam que os melhores contatos não são aqueles feitos durante as palestras e workshops, mas sim nos corredores, nos ônibus e clubes da cidade. Na SXSW, havia grupos de corridas e aulas de ioga, bicicletas de graça para explorar a cidade e coquetéis em bares e barracas montadas para entusiastas de tipografia, fotografia e exploração espacial. Um trailer de comida garantia a refeição favorita bem ao lado do centro de convenções.
O networking continua no aeroporto. Em qualquer voo direto para uma cidade sede, o passageiro ao seu lado muito provavelmente vai lhe perguntar (como já aconteceu comigo) se você vai participar. Ele (a) deve estar indo para lá também (como no meu caso). Quando você finalmente chega e se senta num salão de baile ou centro de exposições, o estranho ao seu lado vai perguntar o que faz, de onde é ou por que decidiu assistir a uma palestra sobre teleportação digital. A SXSW vai mais além, oferecendo encontros para "novatos", para facilitar amizades e ensinar aos marinheiros de primeira viagem como sobreviver ao número insano de painéis e festas.
Se a SXSW Interactive não lhe inspira a ponto de fazê-lo comprar a passagem, há muitas outras opções. Qualquer que seja o seu interesse - política, ambiente, vinho, decoração, anime -, as chances de que haja um evento sobre o tema numa cidade interessante são grandes. Algumas, porém, são mais caras e difíceis de participar que outras, e é por isso que são consideradas "elitistas".
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COMO ENCONTRAR
Quem tem boca vai à conferência
- O que não falta são cidades e eventos interessantes, mas como encontrar as melhores? O negócio é se informar - e se você se inscrever na primeira, os colegas podem recomendar outras no mesmo estilo. Vale também checar o site Lanyrd.com, basicamente uma rede social que permite aos usuários descobrir eventos (por tópico ou data) e conferir aqueles dos quais os amigos pretendem participar. Outro site, o Eventbrite.com, é usado para quem quer se inscrever ou vender ingressos para eventos, mas também pode ser usado para procurar conferências (basta clicar em "encontrar eventos" e depois procurar por "conferência"). Ambos são em inglês.
Aspen Ideas Festival
- As mais caras e badaladas, como a Aspen Ideas Festival - que entre os palestrantes já teve Barbra Streisand, o ex-primeiro-ministro israelense Ehud Barak e Amy Chua, autora de O Hino de Guerra da Mãe Tigre, custam mais ou menos o equivalente a um cruzeiro: de US$ 1,5 mil a US$ 3 mil (as primeiras inscrições para a SXSW Interactive deste ano saíram por US$ 695, bem mais em conta que outras conferências famosas). Os ingressos se esgotam rapidamente - e nem pense em reservar um quarto de hotel no último minuto.
TED
- A TED, a US$ 750 por pessoa, pode até parecer acessível, embora você não possa simplesmente fazer a inscrição e pronto. Quem quiser participar tem que ser convidado ou enviar um formulário respondendo perguntas do tipo: "Se um amigo tivesse que descrever suas conquistas em até três frases, o que ele diria?" e "Conte uma passagem de sua vida que nos dê uma ideia de suas motivações". É preciso também dar referências.
TEDx
- Também é possível visitar cidades ao redor do mundo e sentir um gostinho das conferências mais caras sem ter que esvaziar a conta bancária. A TED, por exemplo, deu origem às TEDx, conferências organizadas por comunidades locais na África, na Ásia, na Austrália e nas Américas que são grátis ou cobram apenas um valor nominal (mapa e lista de eventos no site Ted.com/tedx/events - em inglês); e eventos com acesso somente por convite - como a DLD (Digital-Life-Design) sobre digitalização, ciência e cultura em Munique - permitem que o público se inscreva para obter uma das vagas.
Comic-Con
- Se HQ, games, ficção científica e fantasia forem sua praia, mas você prefere areia e sol a bagels e Broadway, vá então para a Costa Oeste e a Comic-Con Internacional: San Diego e a Comikaze Expo em Los Angeles, convenção oficial de Stan Lee, ilustrador, criador e ex-executivo da Marvel Comics. Prefere Paris ou Londres?
Histórias em quadrinhos
- Conferências de nicho são outra opção. Uma das maiores, a Comic-Con de Nova York, é realizada num dos maiores destinos turísticos dos EUA: Manhattan. A cidade pode intimidar os novatos, mas se você quiser se arriscar e estiver sozinho(a), o evento pode ser uma boa opção. Por que se misturar com banqueiros e corretores se pode trocar ideias com os ilustradores da Mulher Maravilha e do Batman (de 10 a 13 de outubro, US$ 85 por quatro dias)? No ano passado, mais de 116 mil pessoas passaram por lá.
Prefere Paris ou Londres?
- Tem a LeWeb, uma das maiores conferências sobre inovações cibernéticas da Europa, que será realizada em Londres em 5 e 6 de junho (1.590 libras) e em Paris de 10 a 12 de dezembro (2.390 euros). Entre os palestrantes que passaram por lá estão Sean Parker, primeiro presidente do Facebook e fundador do Napster, e Eric Schmidt, CEO do Google.