Eu, meu namorado, Marcelo, minha prima Gisele e o namorado dela, Radaés, saímos de Porto Alegre de carro no dia 1º de fevereiro rumo ao Chile. Na manhã do dia 7, estávamos na cidade argentina de Mendoza quando fomos informados de que a chuva havia causado deslizamentos na cordilheira que, então, estava fechada. Isso é raro de acontecer, pois chove pouco na região. Com tudo pronto desde cedo para partir de Mendoza e atravessar a cordilheira, tivemos de adiar o plano. Ficávamos ligando a um departamento de fronteira de 30 em 30 minutos e só às 14h fomos informados de que a rota estava liberada.
Saímos de Mendoza e entramos na cordilheira, passamos pela Ponte dos Incas e pelo Aconcágua sem problemas, mas, ao tentar cruzar a cordilheira para o lado chileno fomos impedidos, pois já estava tarde. Fomos obrigados a voltar e ficar em um hotel de Penitentes, no meio da Cordilheira.
Durante a noite, choveu ainda mais e, ao acordarmos, fomos surpreendidos pela notícia de novos deslizamentos - a cordilheira ficaria fechada no sentido Chile-Argentina por 72 horas. Como estávamos no sentido inverso, não teria problema, e nossa ideia era ficar 72 horas no Chile. Quando saímos do hotel é que percebemos o que o fechamento significava. A estrada estava uma muvuca só, tomada de carros e caminhões.
Seguimos viagem e entramos no Chile. Porém, após os três dias em Santiago, prontos para a viagem de volta ao Brasil, lemos que a cordilheira estaria fechada por tempo indeterminado. Em Penitentes, onde pernoitamos, havia 660 pessoas ilhadas, sem conseguir ir ou voltar, recebendo ajuda até para se alimentar.
Entre as alternativas, seguimos viagem pela cidade de Talca, no Paso Pehuenche, uns 350km ao sul de Santiago. Porém (sempre tem um porém!), ao chegarmos à aduana chilena, havia uma centena de carros à nossa frente, e eles só liberariam alguns - os outros teriam de pernoitar ali mesmo. Houve um princípio de tumulto. Saímos dos nossos carros e nos reunimos em frente à aduana exigindo a liberação. Acabaram estendendo o horário de funcionamento e apressaram a liberação de grande parte dos carros, entre os quais o nosso.
De lá até Porto Alegre foram mais três dias. Chegamos no dia 15, após 14 dias de viagem, 6 mil quilômetros e algumas histórias para contar.
*Jornalista, 28 anos
Muvuca nos Andes
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