Após 20 anos, retornei ao Egito para ver e rever tantas maravilhas que aquela civilização nos legou. Confesso, de antemão, que o somatório foi altamente positivo.
Àqueles que sonham em conhecer o legado daquele povo, posso afirmar que excede às expectativas.
Sugiro alguns cuidados básicos:
- Escolher a época do ano favorável (evitar julho e agosto, muito quentes; janeiro, único mês que chove)
- Escolher uma empresa de turismo confiável.
- Na mochila não deve faltar: água, de preferência com proteção térmica, um eficiente bloqueador solar, um repelente de insetos e uma faraônica dose de paciência para suportar os vendedores ambulantes.
Entre tantos passeios inusitados, escolho a visita a Abu Simbel.
O percurso entre Aswan e Abu Simbel é um desafio que transforma o passeio em uma aventura. São cerca de 280 quilômetros de um deserto assustador. É tão perigoso, que a polícia turística organiza comboios, precedidos de batedores e sucedido por policiais armados, equipe paramédica e socorro mecânico. Não há sinal de celular, exceto por satélite, nem qualquer abastecimento.
Se houver algum contratempo no percurso, um viajante solitário não encontra qualquer guarida ou socorro. O asfalto, pelo menos, é de boa qualidade.
É um ambiente extremamente intolerante à vida. Em todo o caminho não se vê nada que se pareça com vida, nem um arbusto, muito menos animal. Comenta-se sobre cobras, pequenos répteis e as inóspitas moscas do deserto.
Mas o turista se sente bem em uma van com ar-condicionado e sabendo que está protegido por vários anjos da guarda. Então, não se cansa em admirar aquela paisagem lunar, composta por rochas abissais, cobertas por uma camada de areia e pontilhada por morros de pedra esculpidos pela força do vento. Chama a atenção a frequência com que se veem morros piramideformes, dando a impressão de que dali teria partido a inspiração para o faraó Quéops planejar e construir sua morada eterna. Seguido depois pelo filho Quéfren e o neto Miquerinos.
Chegamos a Abu Simbel com a tranquilidade de quem fez um breve passeio em nosso bairro. Ali, ficamos estupefatos pela grandeza da obra erguida há cerca de 3250 anos.
Ramsés II foi um rei longevo (governou 67 anos). Deixou sua marca indelével, como guerreiro, pacificador e construtor. Mas naqueles enormes monumentos, erguidos em homenagem à sua esposa Nefertiti, que morrera jovem, legou-nos um exemplo de paixão arrebatadora.
Aquilo que vemos em fotos e/ou em filmes, parecendo ser mero produto da imaginação humana, descortina-se em nosso horizonte, satisfazendo todos os nossos sentidos.
Se eu contar com a ajuda dos deuses egípcios para viver mais 20 anos, prometo, já com a idade última de Ramsés II, voltar outra vez àquele país.
*Oficial da reserva do Exército e engenheiro civil, 72 anos
Visita a Abu Simbel
Leitor conta sobre passeio assustador em deserto no Egito
Percurso entre Aswan e Abu Simbel é tão perigoso, que a polícia turística organiza comboios, precedidos de batedores e sucedido por policiais armados, equipe paramédica e socorro mecânico
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