Conhecer lugares diferentes proporciona uma série de experiências ao viajante. Algumas podem não ser muito felizes - pelo menos no momento -, mas, depois, rendem boas histórias e risadas.
Essa premissa serviu de base para a jornalista americana Catherine Price escrever o livro 101 Lugares para Não Conhecer Antes de Morrer, no qual reúne locais aos quais não se recomenda uma segunda visita, bem como também situações surreais em viagens.
O livro, de texto muito bem-humorado, segue uma linha que se tornou popular: a das listas de viagens para fazer, coisas para fazer, discos para ouvir etc., antes de morrer. Catherine, que já rodou o mundo a trabalho e por lazer, gostava de se basear nessas publicações até perceber que seria impossível dar conta de tantas indicações.
Foi então que surgiu a ideia de montar o livro com os lugares para não conhecer e as furadas a evitar, o que ajudaria a poupar o tempo dela e dos demais viajantes. Entre os lugares não recomendados no livro, estão o Museu da Água Encanada de Pequim, na China (na metrópole, não existe água encanada limpa, potável), a pequena cidade de Hell (inferno, em inglês), no Estado de Michigan, nos EUA, e Ciudad Juarez, no México, onde os cartéis do tráfico de drogas ameaçam a população e os visitantes.
Mais famosos entre os turistas e igualmente listados são o topo do Monte Everest (a não ser que você seja alpinista), a Eurodisney, na França, a espanhola Ibiza (para quem viaja em família) e a mística Stonehenge, na Grã-Bretanha.
O Brasil ficou de fora da lista. A única referência à América Latina, aliás, está em um capítulo sobre o parque temático Tierra Santa, em Buenos Aires, na Argentina. Entre um grande aeroporto e um parque aquático, o Tierra Santa reencena - com peças robotizadas de plástico, em meio a um cenário artificial - passagens da vida de Cristo, do nascimento à ressurreição.
A autora também faz alguns alertas em relação às clássicas armadilhas para turistas, como o assédio dos gladiadores do Coliseu de Roma, os restaurantes que servem paella congelada em Barcelona e o curioso truque indiano - usado pelos engraxates no alto de uma ponte de Nova Délhi - de jogar cocô nos sapatos dos viajantes.
Em entrevista, Catherine explica como selecionou os destinos não recomendados e como o viajante pode enxergar humor em uma situação aparentemente patética.
Como surgiu a ideia de escrever um livro sobre o assunto? Seria uma grande ironia?
Catherine Price - Como acontece com muitos dos meus projetos, o livro foi ideia do meu marido. Mas nós concordamos que, muitas vezes, as experiências que parecem mais desconfortáveis no momento são as que rendem melhores histórias depois. Nesse sentido, o livro é um pouco irônico. Apesar do título, a minha real intenção é incentivar as pessoas a viajar, sair e explorar o mundo. Mas fazendo isso com seus próprios critérios, e não seguindo uma lista de sugestões de outra pessoa.
Como você recolheu as histórias?
Catherine - Foi uma combinação de formas. Umas histórias são de minhas próprias experiências. Algumas, de outras pessoas, como amigos, familiares e mesmo estranhos. Depois que o livro saiu, até cheguei a visitar alguns dos lugares citados no livro, como Karostas Cietums, na Letônia (antiga cadeia soviética para presos políticos) ou o Museu da Água Encanada de Pequim. Então, acho que fui contra os meus próprios conselhos!
Qual foi o critério de seleção para chegar aos 101 destinos e situações não recomendados?
Catherine - Estava procurando alguns tipos diferentes de histórias. O primeiro, de locais ou experiências que foram desconfortáveis no momento, mas renderam boas histórias depois. O segundo, de lugares estranhos (como o Festival do Testículo, no Colorado, Estados Unidos), mas que, na verdade, podem ser bem interessantes, caso você goste desse tipo de viagem. Por último, também tentei encontrar alguns lugares que eram inquestionavelmente horríveis - como um campo de trabalhos forçados na Coreia do Norte - ou realmente inacessíveis, como Io, a mais inóspita das quatro luas de Júpiter (o satélite é coberto por crateras e mares de lava alimentados por mais de 400 vulcões ativos; a temperatura chega aos -145ºC). A intenção é tornar impossível que algum obcecado por listas de viagens realmente vá nesses lugares para verificar.
Em sua opinião, quais são os piores entre todos os lugares (ou situações) mencionados no livro?
Catherine - Oh, eu não sei. Consigo ver o lado positivo em uma série de experiências de viagem. Mas acho que os únicos momentos verdadeiramente ruins quando você está viajando são aqueles dos quais você não pode rir depois. Também não gosto de situações que me façam sentir como se eu estivesse em perigo, ou em que as pessoas ou animais possam se machucar. Mas, se é apenas uma questão de ser algo desconfortável ou desagradável, geralmente posso encontrar uma maneira de rir disso.
Quais são as dicas que você dá para os viajantes evitarem essas situações ruins?
Catherine - Como disse anteriormente, acho que, quando se trata de viajar, atitude é tudo. Realmente gostei muito das histórias contadas no livro. Mas você precisa ser capaz de rir desses momentos. Então, acho que a dica número um para todos os viajantes é simplesmente manter o senso de humor.