Uma extensa camada de dunas de areia ocupa 93,5 quilômetros da costa de Mostardas, no litoral médio do Rio Grande do Sul. A área inexplorada em termos turísticos conta com uma série de lagoas e atrai jipeiros e amantes de motocross em busca de aventuras. Tratam-se dos lençóis mostardenses — um verdadeiro paraíso natural e ainda preservado.
Veranista da Praia da Solidão há mais de 50 anos, o oftalmologista Jean César Fogaça Pereira, 52 anos, não esconde o entusiasmo com os conjuntos de dunas que seguem até onde a vista não alcança.
— Isso aqui nada mais é do que os Lençóis Maranhenses sem precipitação — define Pereira.
A comparação diz respeito a outro lugar semelhante, mais famoso e situado no Maranhão, na costa do atlântico norte do país. Aquele é conhecido por sua ampla paisagem desértica de altas dunas de areia branca e lagoas sazonais formadas por águas pluviais, algo que atrai turistas de todo o mundo.
Conforme dados do Plano de Manejo de Dunas da prefeitura de Mostardas, apenas no município, essas formações naturais se estendem pela região costeira do território desde a divisa com Palmares do Sul (ao norte) até Tavares (ao sul).
A área total da costa chega a cerca de 85,2 mil hectares, com largura média de nove quilômetros desde a linha da própria costa até a rodovia RSC-101. Nesse espaço, as dunas dos lençóis mostardenses ocupam 35,7% de área total, o que equivale a aproximadamente 30,4 mil hectares.
— Aqui estamos a cerca de 800 metros do Farol da Solidão. Temos a Lagoa da Tarumã, à direita, e, ao lado, a Lagoa dos Moleques. Estamos a 60 quilômetros de Mostardas e a mesma distância de Tavares, nessa natureza intocada — contextualiza o oftalmologista, dizendo que os veranistas e moradores da região costumam caminhar nas dunas e ver as lagoas.
Isso aqui nada mais é do que os Lençóis Maranhenses sem precipitação.
JEAN CÉSAR FOGAÇA PEREIRA
Veranista da Praia da Solidão
— Muitos turistas vêm de jipe e moto. Muitos jipeiros já conhecem essa região e aproveitam aos finais de semana — conta.
A reportagem de Zero Hora visitou as dunas no município de Mostardas, que também ocupam trechos de outras cidades. Não foram visualizadas placas com sinalização e foi possível ver lixo descartado de forma irregular, como sofás e carcaças de aparelhos eletrônicos, em alguns acessos. A impressão que se tem é que os lençóis mostardenses são um tesouro escondido na região.
O secretário de Planejamento de Mostardas, Pedro Terra, afirma que apenas na faixa costeira da cidade há 15 lagoas, isso considerando também as existentes dentro do Parque Nacional da Lagoa do Peixe.
Os campos de dunas e os arenosos dos lençóis mostardenses são considerados áreas de proteção permanente (APPs). A prefeitura conta com um Plano de Manejo de Dunas para tratar do tema.
— O Plano de Manejo de Dunas trata do conflito da urbanização, de como fazer o manejo e da adequação das áreas de drenagem e dos acessos operacionais das ambulâncias, caso haja alguma necessidade — explica o secretário.
De 2009 até 2023, tramitou na 9ª Vara Federal de Porto Alegre, uma ação civil pública contra o município. Entre os problemas sinalizados pelo Ministério Público Federal (MPF), autor do processo, estavam as moradias construídas em terrenos próximos aos balneários, definidos como de preservação. O objetivo era o mapeamento das APPs de Mostardas.
A importância (dos lençóis mostardenses) é gigantesca.
PEDRO TERRA
Secretário de Planejamento de Mostardas
— Em 2023, conseguimos acordo com o MPF, que delimitou sobre as áreas, como fazer os licenciamentos e os regramentos da parte de urbanização na parte costeira — diz.
A prefeitura de Mostardas assegura que ações de desenvolvimento do turismo estão previstas no Plano Diretor e no próprio Plano de Turismo.
O poder público municipal aguarda uma resolução do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema), que pretende delimitar sobre as trilhas nas dunas e a questão dos jipes na região.
— A gente visa fazer sinalizações, informativos, temos algumas coisas na Casa de Cultura do município relacionando onde ficam os balneários, faróis e trilhas. Estamos aguardando a resolução para implementar a regulamentação dessas trilhas, fazer o georreferenciamento — enumera o titular da pasta.
Questionado sobre a relevância dos lençóis mostardenses para o município, Terra acredita que o turismo precisa agregar, sem deixar lixo depois da passagem das pessoas pelo local:
— A importância é gigantesca. Temos que pensar no desenvolvimento e na preservação do meio ambiente, mas conciliando com a questão do turismo, demonstrando as belezas naturais sem prejudicar a natureza.