Não chega a ser um Nordestão todo dia — aquela ventania acima de 30 km/h à beira-mar, mas a constância do vento nesta temporada no Litoral Norte chama a atenção dos banhistas.
Não é apenas impressão: de acordo com medições meteorológicas, o ar vem soprando a uma velocidade média que chega a mais do que o dobro do padrão para o mês de janeiro. E a previsão indica que deve aumentar ao longo da semana, podendo se aproximar de 40 km/h.
A principal diferença em relação a outros períodos é que, se em outros anos o vento soprava mais forte e depois diminuía a intensidade, agora tem se mostrado moderado, mas muito persistente — o que eleva o cálculo da média. Por vezes, forma uma espécie de "Nordestinho" que não dá trégua. Em outros momentos, sopra dos quadrantes Leste ou Sul, mas está quase sempre presente.
— Desde o começo da temporada, o mar está mais limpo do que o normal. Em compensação, quase todo dia tem esse vento. Não chega a ser tão forte, mas é contínuo — surpreende-se o corretor de imóveis Alex Ferreira, 55 anos, à beira-mar de Tramandaí.
No domingo (12), quando o ar seguia soprando de Leste a cerca de 20 km/h, o gerente de clínica Rodrigo Silveira, 44 anos, deu um novo uso ao guarda-sol. Em vez de postá-lo em pé, para se defender dos raios solares, colocou-o praticamente deitado sobre a areia para proteger o churrasquinho do vento que vinha do oceano.
— Se não fizer isso, o carvão acaba rapidinho — explica Silveira.
Conforme a Professora da Faculdade de Meteorologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Eliana Klering, a média histórica no mês de janeiro no Litoral Norte, medida no período entre 1991 e 2020, é de 2,2 metros por segundo, ou praticamente 8 km/h. Desde o começo do ano até o final da manhã de domingo, a média observada na estação automática de Tramandaí chega a 18 km/h. Geralmente, fica mais forte na parte da tarde, por vezes até inibindo o banho de mar.
Eliana avalia que a mudança de padrão pode ter relação com o fenômeno La Niña (resfriamento das águas do Pacífico), que altera padrões atmosféricos, mas a questão é controversa. Para a meteorologista da Climatempo Patrícia Cassoli, a razão é outra.
— A influência do fenômeno La Nina no Rio Grande do Sul está associada a maior irregularidade e má distribuição da chuva. O que tem ocasionado esses ventos mais frequentes pelo Litoral é a atuação persistente de sistemas de alta pressão atmosférica, que atuam na retaguarda de frentes frias — afirma Patrícia.
A meteorologista complementa:
— Essas frentes frias têm estacionado na costa da região Sudeste, atuando por mais tempo no Centro-Norte do Brasil e mantendo esses ventos mais frequentes na costa litorânea do Rio Grande do Sul.
Meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Heráclio Alves também acredita que a ocorrência desses sistemas associados de baixa e alta pressão é o motivo do vento mais teimoso no Litoral Norte.
— Como por esses dias também tem se formado a Zona de Convergência do Atlântico Sul (que concentra umidade mais ao centro do país), essas áreas de baixa pressão ficam mais estacionárias e, mesmo mais afastadas, sobre o oceano, ajudam que os ventos (no litoral gaúcho) sejam mais frequentes — analisa Alves.
Conforme as previsões da Climatempo, o vento deve superar os 30 km/h entre quarta (15) e quinta-feira (16) na região de Tramandaí. Já a plataforma windy.com aponta que poderia se aproximar dos 40 km/h na tarde de quinta-feira.