A temporada de verão deste ano no Rio Grande do Sul tem como segunda língua o "portunhol" — a mistura do português do Brasil com o espanhol dos hermanos, que dominam o litoral gaúcho em 2025. Pelas cidades, é comum ver fileiras de carros com placas da Argentina, além das cuias e garrafas térmicas tão características dos nossos vizinhos.
— Amo Capão, desde os 18 anos venho sempre a Capão. Gosto das pessoas, de tudo, da cidade. Eu vi como foi crescendo e hoje é uma cidade, e amo — conta Graciela Frinet, de 68 anos, de Posadas, na província de Missiones.
Entre visitantes frequentes e novatos, a comunicação é um obstáculo driblado com falas pausadas, mímicas e o famoso portunhol. A mistura de idiomas e sotaques também gera algumas pérolas, especialmente quando o vendedor brasileiro é de outro estado, como Rio de Janeiro ou Minas Gerais, como observado pela reportagem de Zero Hora na manhã dessa sexta-feira (24).
— Queres una caipirinha? De limãozito? — brincou um vendedor para um grupo de amigas de Corrientes, que chegou nesta sexta em Capão.
Já para o vendedor de roupas, as amigas questionavam sobre a forma de pagamento, antes de pegar a calculadora e fazer a conversão.
— Aceita Pix? — perguntou Laura Machuca.
Números recordes
A percepção de que os turistas estrangeiros dominaram o verão gaúcho foi confirmada pelos números da Polícia Federal. Desde 2014, último ano com dados disponíveis, 2025 registrou o maior ingresso de visitantes de países vizinhos pelo Estado para os primeiros 22 dias de janeiro.
Foram 675 mil registros de entradas e saídas pelas fronteiras do Rio Grande do Sul. Os números não especificam a nacionalidade, mas metade passou por Uruguaiana, na fronteira com a Argentina, rota preferida pelos hermanos. Os outros acessos envolvem Santana do Livramento e Jaguarão, por onde também acessam os uruguaios.
O aumento é tão expressivo que somente em Uruguaiana foram 330 mil registros, um número 40% maior do que 2022, que detinha o recorde até então. A rede hoteleira também comemora o aumento dos estrangeiros, que estão com o câmbio favorável em relação ao real.
Segundo a diretora do sindicato dos Hotéis, Bares e Restaurantes do Litoral, Ivone Ferraz, os visitantes estrangeiros são responsáveis por garantir a ocupação em alta, mesmo durante os dias úteis — um hábito diferente dos brasileiros que se deslocam mais aos finais de semana e feriados. Nesta semana que passou, praticamente não havia leitos vagos, garante Ferraz.
— Eles estão em peso, 80% é argentino que temos como hóspedes. No meu hotel, no Centro de Torres, são 70% argentinos e o resto brasileiro. Só vou ter reservas a partir da próxima segunda — destaca a diretora.
Caminho até o Brasil
O caminho mais usado pelos argentinos para acessar o Rio Grande do Sul envolve o acesso por Uruguaiana, onde pegam a BR-290 e cruzam o Estado de oeste a leste até o litoral gaúcho.
Também existem duas rotas, que envolvem o acesso passando pelo Uruguai e entrando por Santana do Livramento ou Jaguarão. Partindo de Buenos Aires, todas as viagens possuem cerca de 16 horas de duração.