A cerca de 30 quilômetros de Torres e 60 de Capão da Canoa, o município de Três Cachoeiras, entre a Serra e a Lagoa Itapeva, esconde em meio à Mata Atlântica preservada atrativos naturais encontrados recentemente. Abertas há dois anos para visitação do público, as quedas d’água com até 40 metros só têm acesso por meio de trilhas e com a companhia de um guia de turismo. Os visitantes ainda têm a possibilidade de fazer esportes radicais, como rapel.
O local é conhecido como “Reserva da Grota Verde”, e possui cerca de 20 cachoeiras, sendo quatro com trilhas abertas e disponíveis para visitação. Por ser uma área privada, só é possível acessar a área com uma empresa.
O ponto de encontro com os guias acontece na localidade de Morro Azul, em frente à igreja São Luiz Gonzaga. Para chegar ao local, a partir da BR-101, é necessário acessar a RS-494, em Três Cachoeiras, e percorrer cerca de 4 quilômetros até o pórtico de Morro Azul e entrar à esquerda. O trecho está sinalizado, é facilmente encontrado no GPS e tem estrada em boas condições.
No local de saída os turistas embarcam em um veículo 4x4 para seguir até o início da trilha, que ainda está passando por melhorias de acesso, mas não muito, para não perder o espírito “off-road”, explica o sócio da Trilhas do Sul, André Behenck, responsável por conduzir a reportagem no passeio.
Por ser área de mata fechada, a orientação é para que os turistas usem calçados fechados e roupas confortáveis, além de levar água e lanches rápidos. Equipamentos de segurança, como perneiras para evitar picadas de cobra, são obrigatórios e fornecidos pela empresa sem custo.
A trilha, a depender da ordem de visita das cascatas, é de 5 a 7 quilômetros, com passagens por trechos de pedras, travessia de pequenos córregos, com auxílio de corda para algumas subidas. Por isso, também é necessário possuir um bom condicionamento físico, mas não é preciso ter experiência prévia.
Conforme André, em 2020, quando ainda era apenas um aventureiro, ele e um amigo passaram a explorar a área em busca de cachoeiras.
— A gente aprendeu como se procura cascata num ambiente desses, que é encontrar a água descendo. Quando se encontra a água descendo, tu sobe ela e geralmente vai chegar num paredão como esse aqui — disse, apontando para a cascata que eles chamam de Antônio Medeiros, em homenagem a um proprietário da área.
Em 2022, eles decidiram comprar parte da área para abrir o espaço à visitação do público, a partir de janeiro de 2023. André decidiu sair da área da tecnologia da informação, onde trabalhava em Porto Alegre, para se dedicar ao turismo de aventura e morar em Três Cachoeiras.
— As pessoas perguntam se não foi difícil essa transição. E eu sempre falo que a minha cabeça já estava aqui. Não foi uma transição difícil. Eu tinha a impressão que poderia enjoar de estar sempre indo no mesmo lugar, mas eu descobri que cada vez eu gosto mais desse lugar. É a minha segunda casa, quase a primeira — disse André.
As quatro cascatas
Nossa trilha começou às 9h com uma caminhada de cerca de 1 quilômetro em área aberta, até entrarmos na mata fechada. Depois de alguns minutos de subida, é possível ver a primeira cascata. Como foram abertas ao público há pouco tempo, o guia diz que elas ainda não foram batizadas. No entanto, essa é conhecida como “escolinha”, porque com seus 25 metros de queda, é ideal para ensinar rapel.
Praticante do esporte por hobby e instrutor da prática, o funcionário público Christian Rodrigues foi quem acompanhou a equipe.
— Pra mim, é a válvula de escape para aguentar o dia a dia do trabalho — confessou Christian.
Foi ele quem montou a corda e deu as instruções para que o repórter pudesse descer pela primeira vez de rapel com toda a segurança. A descida dura poucos minutos e não exige força.
— É um lugar muito bom para treinar e ter o primeiro contato. O rapel é indicado para todo mundo, mas vai depender da extensão da caminhada e nível técnico, mas existem milhares de cachoeiras para milhares tipos de pessoas, então é indicado para todo mundo — explica.
Após o rapel, a caminhada seguiu para a segunda cascata a ser visitada, a mais distante e de difícil acesso das quatro. Pelo caminho, André mostra indícios de que a área provavelmente foi ocupada por algum morador há muitos anos, como vegetação não nativa e pedras posicionadas como se fossem para sustentar a estrada.
— Eu ainda não consegui comprovar, mas tudo indica que já teve morador e estrada para carreta de boi aqui.
A terceira cascata visitada na trilha já é no caminho de retorno ao ponto de encontro e a única que tem um nome definitivo: Antônio Medeiros. Nela, é possível que iniciantes façam rapel.
Já era por volta do meio-dia quando seguimos para a última das quatro cachoeiras visitadas, que vem sendo chamada de “cascata zero”. Com mais de 40 metros de queda d’água, o paredão fica ainda mais bonito no meio do dia, com o sol refletindo na água. A cachoeira tem um pequeno poço, que pode ser usado para se refrescar.
Quanto custa e como visitar
A caminhada entre as cachoeiras custa R$ 130 (no Pix) ou R$ 140 (cartão) e inclui guia e materiais de segurança. A trilha com rapel fica R$ 190. As saídas são às 8h, mas não ocorrem todos os dias, somente quando há interessados e condições de tempo.
As reservas podem ser feitas pelo site do Trilhas do Sul ou pelos telefones (51) 982004181 e (51) 996643674, bem como consulta sobre valores e rapel.