A família que solicitou a instalação de uma rampa na beira da praia, em Capão da Canoa, e o operador da máquina responsável pelo asfaltamento de um trecho de areia contestam a versão divulgada pela prefeitura de que a obra polêmica teria sido um ato espontâneo de um funcionário na última sexta-feira. Segundo ambos, a Secretaria de Obras do município teria autorizado o avanço de uma trilha de asfalto até o mar.
O advogado Jorge Laureano Pereira, 57 anos, conta que abriu o processo número 17989/2015 na prefeitura do município, em 24 de agosto de 2015, para solicitar a implantação de um acesso sobre um trecho da faixa de areia que alaga frequentemente.
A intenção era permitir que sua filha tetraplégica, Sarah, de 30 anos, pudesse chegar à beira-mar. Vítima de um erro médico provocado por anestesia quando tinha apenas 2 anos, ela não fala e precisa de auxílio para todo tipo de tarefa. A família, que tem casa em Porto Alegre, passa cada vez mais tempo na praia porque o barulho das ondas tranquiliza Sarah.
– Ela chega a dormir na cadeira. O ruído do mar deixa ela relaxada – conta a mãe, Maria Inês Lottici, 57 anos.
O problema é que a família seguidamente não consegue vencer um trecho de areia alagadiça para chegar à orla. Por isso, há quase um ano e meio, Pereira busca a instalação de um acesso ao final de sua rua, no balneário Guarani. Além de abrir um protocolo, nos últimos meses o advogado havia feito apelos à chefia de gabinete do prefeito e às secretarias de administração e de obras.
– Nós só queremos que a nossa filha possa usufruir da praia. Bastaria colocar uma pequena passarela de madeira, como existem tantas outras em vários locais de Capão. Mas é a prefeitura que decide como a obra será feita – explica Pereira.
Alguns dias antes da tentativa de implantação do asfalto sobre a areia, realizada sexta-feira, o advogado conta que havia encontrado o operador de máquinas pesadas da prefeitura Nilson Machado, 59 anos, que realizava reparos nas proximidades. Repetiu o pedido para a instalação de uma rampa. Segundo Pereira, o funcionário telefonou para a secretaria de Obras na sua frente a fim de confirmar se poderia fazer algo.
Machado confirma essa versão. O servidor municipal diz que não tomou nenhuma decisão sozinho:
– Sou funcionário da prefeitura há 27 anos. Tu acha que eu vou fazer alguma coisa por minha conta? Telefonei para o secretário de obras e pedi autorização, que foi concedida. A decisão foi minha e do secretário.
A obra então foi programada para a manhã de sexta-feira, quando o maquinário da prefeitura, segundo o operador, se dirigiu ao local exclusivamente para criar a trilha asfáltica. Moradores das proximidades dizem que havia pelo menos uma dezena de funcionários no local, um carro da prefeitura, um caminhão de areia, um trator e um caminhão de asfalto com rolo compressor.
Após a repercussão do caso, a prefeitura retirou o asfalto e emitiu nota garantindo que a pavimentação havia sido uma decisão isolada de um funcionário, sem a autorização da administração municipal (veja a íntegra abaixo).
Zero Hora telefonou para o celular do secretário de Obras, Luis Fernando Nunes, mas não havia conseguido contato até o começo da tarde de sábado. A assessoria de imprensa da prefeitura de Capão da Canoa voltou a informar que a colocação de asfalto não foi formalmente autorizada pelo município.
Confira a nota divulgada pela prefeitura de Capão da Canoa
"Conforme informações da Secretaria de Obras e Saneamento a rampa em asfalto feita à beira mar no bairro Guarani para acesso de cadeirantes não foi proveniente de ordem da Administração Municipal, e sim um equívoco de algum funcionário.Segundo relatos, uma moça cadeirante que estava no local, juntamente com seus familiares pediu a um funcionário da prefeitura que trabalhava no espaço, fazer um acesso até a praia para cadeirantes. Ele equivocadamente atendeu ao pedido e foi além. A Prefeitura Municipal já está retirando o material e tomando as devidas providências, abrindo uma sindicância para apurar o caso e punir os responsáveis."