Rochas submersas escondidas nas profundezas do mar têm despertado a atenção de pesquisadores de oceanos e motivado novos projetos de investigação científica no litoral gaúcho. Localizados a 25 metros de profundidade, em média, os parcéis são rochas que abrigam grande quantidade de vida marinha como corais e exemplares da fauna ameaçados de extinção.
No Estado, eles ocorrem em frente a praias como Torres e Cassino, em Rio Grande, mas há indícios de que possam estar também nas profundezas do mar de Capão da Canoa e Tramandaí.
Ainda pouco conhecidos pela ciência, os parcéis são geralmente visualizados por pescadores e mergulhadores, como Henrique José dos Santos Junior, da Oceânica Centro de Mergulho.
- Parecem montanhas com formato de cânions submersos, e abrigam uma variedade de espécies de fauna, principalmente cardumes de peixes - explica.
Projeto no RS para catalogar formações
Devido à turbidez do mar no RS, a exploração para o turismo e para estudo deste tipo de formação ainda é restrita, afirma o oceonólago Lauro Júlio Calliari, do Instituto de Oceonografia da Fundação Universidade do Rio Grande (Furg):
- São como santuários ecológicos desconhecidos e ricos. Têm uma fauna tremenda.
Formadas pela cimentação de grãos de areia e conchas com carbonato de cálcio, as rochas submarinas representam antigos limites do mar em relação ao continente e abrigam um tipo de fauna típica de fundo duro. Além da biodiversidade, são importantes em razão do depósito de conchas - o que representa um recurso mineral forte, diz Calliari.
De acordo com o pesquisador, porém, não há apenas uma teoria que explique sua formação. Uma hipótese é de que os parcéis tenham sido gerados pela cimentação e formação de rochas dentro do mar.
Em vídeo, veja como são os parcéis de Torres:
Além dos indícios informais, há evidências disso em cartas náuticas da Marinha, segundo Jair Weschenfelder, geólogo e professor do Instituto de Geociências da UFRGS:
- Hoje, os parcéis estão aparecendo em locais sem evidências anteriores. Sua ocorrência era mais comum até São Paulo, por causa das águas serem mais quentes.
Devido à série de implicações na geologia e biologia marinha, Jair planeja criar um projeto para realizar coleta de amostras e análises que tragam evidências científicas para a classificação dos parcéis do litoral gaúcho.
Turbidez da água no litoral gaúcho dificulta visualização
O período mais propício à visualização dos parcéis acontece entre dezembro e abril, quando a água está em melhores condições de visibilidade. Mesmo assim, da superfície praticamente nada se vê - embora pescadores já tenham visualizado parcéis em Rio Grande. Na maioria dos casos, eles só podem ser observados em mergulhos, saindo de pontos como o Rio Mampituba, em Torres, e o Rio Tramandaí, em Tramandaí.
Pesquisador do Centro de Estudos de Geologia Costeira e Oceânica (Ceco), Thiago Nóbrega Lisboa afirma que fósseis dos parcéis foram encontrados em 2012, o que teria aumentado o interesse dos pesquisadores. De acordo com Lisboa, além de corais, esponjas, anêmonas e ceriantídios, lugares como estes também podem abrigar espécies ameaçadas de extinção.
- Essas zonas teriam de ter manejo e controle da pesca e do tráfego marinho, para garantir a preservação das espécies - defende Lisboa.
Em São Paulo e no Maranhão, a existência de parcéis levou à criação de parques específicos para sua visualização e preservação. No Rio Grande do Sul, o Parcel do Carpinteiro, localizado a 30 quilômetros dos Molhes de Rio Grande, é o mais conhecido e estudado.
- É uma das únicas feições consolidadas da costa gaúcha. Nossa costa é reta, contínua e arenosa, com quase 600 quilômetros de praia arenosa. É importante do ponto de vista da biologia pela concentração de organismos marinhos costeiros que dependem de substrato duro - avalia André Colling, oceanógrafo e pesquisador da Fundação Universidade Federal do Rio Grande.
Segundo ele, estes locais podem abrigar espécies de tartarugas marinhas e também do peixe Garopa (o mesmo ilustrado na nota de R$ 100), além de bolachas e estrelas do mar, anêmonas, crustáceos, cracas e moluscos.