Por Rosane Marchetti, jornalista
A jornalista Rosane Marchetti relembra os preparativos para um domingo muito especial, em que iria passar uma tarde no Rio da Prata, em Protásio Alves.
Os leitores Sandra Pereira de Mattos, Fabiano Sena, José Cloves Borges, César Caetano, Camilla Paiva, Marilha Marques, Nara Thiel, Domingos Sávio Vigil Teixeira, Márcia Flores, Luiz Carlos Haag, Camila Kehl e Vera Lucia Sauer acertaram que a criança da página 21 da Zero Hora de quarta-feira era Rosane Marchetti.
Eu devia ter uns 11, 12 anos, quando me dei conta de como os verões eram e por que eram tão importantes na minha vida... Lembro que naquela vez me peguei contando os dias para chegar o verão e, quando me perguntei por que, entendi tudo muito rápido....
Era o tempo que eu poderia ficar muitos e muitos dias na casa de meus avós e brincar com os meus primos, caso meus tios visitassem Nova Prata, a cidade onde eu morava. Nova Prata fica na Serra.É pertinho, menos de 180 quilômetros de Porto Alegre, mas quando a gente é pequeno, tudo parece grande e muito mais distante do que é na verdade.
O mar, então, era algo que para mim parecia ficar em outro planeta, mas isso não me incomodava. Na Serra, eu tinha árvores enormes para explorar e rios para refrescar as tardes quentes. Na casa da nona Teresa, tinha um cavalo (ela dizia que era meu, só meu), por isso, eu era encarregada de levar um primo de cada vez para dar voltas e, nessas voltas, eu me divertia!
Ao passar por cada árvore, a Sandra, o Iede, o Jelson, o Carlos e o Alvaro, meu irmão, precisavam adivinhar as frutas típicas do verão. Havia uva, figos, ameixas, cerejas nativas, maçãs e caquis... E a gente só parava quando sentia o cheirinho do pão assando no forno de barro. Lá dentro, além dos pães de minha avó, estavam nossas colombinas... Uma tradição italiana.
As crianças aprendem a enrolar a massa em forma de pombinhas, colocam feijões como olhos e depositam sobre uma palha de milho como se fosse o ninho. Assim vão para o forno onde ficam até dourar. E esse era nosso lanche da tarde acompanhado com doce de figo ou de uva. Não tinha refri. Era café, garapa ou água do poço.
Um dia, depois de devorar nossas crocantes colombinas, eu, meu irmão Alvaro e meus primos fomos "treinar" para aproveitar a tarde de domingo no Rio da Prata, em Protásio Alves, onde morava a outra avó: a nona Rosa. Ainda faltavam alguns dias para o domingo e estávamos cheios de expectativas, de planos, de como brincaríamos dentro da água sem perder tempo?
Sentados na escada da casa da minha avó, não tivemos dúvidas de onde treinaríamos ao ver o monte de palha de trigo sendo retirada de um galpão. A palha seria nosso rio e, da janela do galpão, lançaríamo-nos. Era isso. Assim foi até o anoitecer! Um de cada vez pulando da janela sobre o rio feito de palhas... Só à noite, na hora do banho, fomos sentir como nossas pernas e braços estavam ardidos pelos arranhões das palhas!
Mas tinha sido uma grande experiência! Estávamos orgulhosos de nós mesmos! O mais surpreendente é que no domingo, quando fomos ao Rio da Prata, não usamos nada do que treinamos! Ninguém se jogou do alto de uma pedra. Simplesmente nos divertimos sem cobrança, sem pensar em tempo perdido... Afinal o rio de água era tão divertido como o rio de palha! Importava o que sentíamos dentro da gente!
E é engraçado como de todos os verões lembro deste em detalhes... Às vezes fico pensando que é porque depois dele nunca mais houve um verão como aqueles.
Sabe quem é a pessoa na foto? Clique e dê seu palpite! A resposta será publicada na Zero Hora de sexta-feira.