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Por Sara Bodowsky, jornalista da Rádio Gaúcha
Na cabeça da pequena Sara Bodowsky, a praia não poderia ter nada a ver com os grandes edifícios da beira-mar do Rio de Janeiro mostrados em tomadas aéreas na novela das oito.
Somente a leitora Zurba Fagundes acertou que a criança na página 43 da Zero Hora de quarta-feira era Sara Bodowsky.
Fui conhecer o mar quando já tinha sete anos. Era final da 1ª série na Escola Pindorama, em Novo Hamburgo, e minha coleguinha Cristine me entregou um bilhete. "Ó, Sara, dá para tua mãe. A minha que mandou." Cheguei em casa e entreguei para a mãe. Ela olhou, e, num sorriso, me disse:
- Tu vais para a praia com o tio Raul e a tia Anelise.
Minha família não tinha costume nem condições financeiras para o veraneio anual. Como naquela época não era feio chamar professores e pais de amigos de tios, a partir de então esses "tios" viraram oficialmente meus ídolos. E parte da família. Em um intervalo que pareceu um mês (mas que não passou de uma semana), eu perguntava à noite para minha mãe:
- Quanto tempo falta para eu ir para a praia?
E a resposta era, invariavelmente:
- O mesmo tempo que faltava hoje de manhã. E ao meio-dia. E nas três vezes que tu perguntastes hoje à tarde, Sara.
O mar que eu imaginava era uma mistura de relatos de amigas com imagens da novela das oito. E, ainda assim, a novela não ajudava muito. Uma cena incomodava minha idílica ideia de praia - aquela linha de edifícios do outro lado da rua, nas famosas tomadas aéreas da Avenida Atlântica, no Rio de Janeiro. Pensava:
- Não faz sentido. O mar tem mato, não tem prédios.
Chegou o dia, a viagem começou, e eu com a ansiedade acumulada. Algum tempo no carro e... Vi o mar! Ou pelo menos achei que vi. Fiquei tão emocionada que perguntei, como quem já queria afirmar, "É o mar?! É o mar!".
Entre divertida e emocionada, tia Anelise me explicou que aquilo era uma lagoa, a Lagoa dos Barros. Arroio Teixeira. Meu primeiro "nome" para praia. Finalmente meu mar! Sem prédios. Ficamos em um camping. Entre o local e o mar, apenas dunas, árvores, arbustos, córregos, espaços para brincar de esconder.
Meu primeiro pé na água, confesso, foi de chinelos. A sensação das tatuíras pinicando a sola dos pés dava medo. A tarde estava nublada, mas foi quase preciso que me arrastassem de dentro da água, da beira do mar, dos buracos e dos castelos construídos e destruídos.
Foi o início de um amor que nunca mais teve fim. Conheci desde então muitas praias. Já aceito, ainda que a contragosto, os prédios próximos à orla. Mas sinto saudades do nosso mar com dunas enormes. Das brincadeiras. E daquelas risadas cristalinas que só quem pegou jacaré no mar gelado cor de chocolate consegue entender.
Sabe quem é a pessoa na foto? Clique e dê seu palpite! A resposta será publicada na ZH de sexta-feira.
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