Por Milka Wolff, estilista
Sem que os pais soubessem, o trio de irmãos da estilista Milka Wolff arrebatou a cidade de Bagé e fez da caçula, com apenas 13 anos, rainha do Carnaval da cidade.
Os leitores Francisco Simões Pires Neto, Cristiane Kern, Luciane Dani Klein, Clarissa Weiss Benetti, Maria Teresa Castilho, Rosa Maria Pegoraro Carniato, Milene Danelon Moreira, Daiana Dos Santos e Ivone Herz acertaram que a criança da página 33 da Zero Hora de quinta-feira era Milka Wolff.
No abafado verão de 1954, durante o mês de janeiro, foi lançada mais uma edição da tradicional eleição para Rainha do Carnaval de Bagé, onde eu morava com a minha família. Eu tinha apenas 13 anos, mas meus irmãos resolveram me inscrever no concurso apesar da pouca idade porque, sempre que possível, eu adorava me transformar no centro das atenções.
Os votos para eleger a representante do Carnaval bajeense eram coletados através de um encarte publicado no jornal Correio do Sul. Meus três irmãos, dos quais eu sou a caçula, saíam pela cidade afora pedindo a todos o encarte para a votação. Era uma verdadeira campanha eleitoral.
Até então, meus pais não estavam sabendo de nada sobre a minha candidatura ou sobre a mobilização dos meus irmãos para me eleger representante do Carnaval do município. Na noite de abertura das urnas, o resultado da eleição era anunciado pelos alto-falantes da cidade.
Como meus pais seguiam sem saber sobre o que estava acontecendo, saí acompanhada por um funcionário da loja do meu pai para ouvir o resultado tão esperado. Que susto tomei quando os alto-falantes começaram a ressoar.
- Primeiro lugar... Milka Wolff! - anunciou o sistema de som.
Que emoção! Saí correndo de volta para casa para colocar um vestido bem bonito que eu já tinha preparado para o caso de ganhar a votação, claro. Eu me aprontei toda e comecei a ouvir, ainda distante, a batucada das escolas de samba que vinham me buscar para cumprir a tradição de atravessar a cidade como Rainha do Carnaval.
Quando chegaram diante da nossa casa com toda aquela algazarra, minha mãe abriu a porta e perguntou, bastante intrigada:
- O que é isso?
Eles disseram:
- Sua filha é a rainha da cidade!
Minha mãe, que nem desconfiava da minha eleição, deu uma gargalhada e respondeu:
- Vão embora daqui, estão todos dormindo.
E lá se foi a batucada de volta. Chorei todas as lágrimas, mas, depois, a minha família participou da confecção da roupa de rainha e de um desfile em carro aberto pelas ruas da cidade.
Não pude participar dos bailes por ser menor de idade, mas os diretores dos clubes interrompiam as festas e me apresentavam aos foliões ao som da música - própria para rainhas - Marcha Triunfal, da ópera Aida, do compositor italiano Giuseppe Verdi.
Por ironia, por ser tão jovem, a própria rainha não podia participar dos bailes carnavalescos. Mas, pelo menos, eu dava a volta nos salões durante o abafado e surpreendente verão de 1954 no município de Bagé.
Sabe quem é a pessoa na foto? Clique e dê seu palpite! A resposta será publicada na ZH de sábado.