Seja por questões de saúde ou pelo avanço da idade, a quantidade de mulheres que recorrem às técnicas de reprodução humana assistida para engravidar vem aumentando nos últimos anos no Brasil. Mas, apesar dos avanços da ciência, não é garantido que os métodos resultem em uma gravidez — o que pode gerar uma série de tentativas frustradas e um grande abalo psicológico. Por isso, é considerado fundamental que os casais "tentantes" sejam acompanhados por especialistas da área.
Em 2008, aos 30 anos, Danusa Maria Moraes Krugen e o marido Guilherme Camillo Krugen decidiram que estava na hora de ter um bebê. Após um tempo sem utilizar métodos contraceptivos, começaram a investigar o motivo de não conseguirem engravidar. Os exames trouxeram o diagnóstico de endometriose profunda e, por consequência, a infertilidade.
— Aquilo foi um baque, veio a tristeza de saber que não iria conseguir uma gravidez natural, como se tivesse aberto um buraco. Pensava “por que comigo?”. Na época eu era técnica de enfermagem, mas não entendia muito sobre reprodução assistida, então fui pesquisar — conta Danusa, que hoje tem 44 anos.
Sem condições para pagar a fertilização in vitro em uma clínica particular, a enfermeira descobriu a possibilidade de fazer o tratamento na rede pública de saúde. Menos de um mês depois do diagnóstico, Danusa teve a primeira consulta no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Em 2009, o casal iniciou o processo de fertilização. Foram três tentativas sem sucesso, gerando sangramento dias após a colocação dos embriões no útero:
— E aí o teu psicológico fica alterado e tu não acredita mais, fica te perguntando por que não conseguiu. Quando não dava certo, era aquele choro todo. Essa parte me machucou muito. Eu decidi parar e meu marido me apoiou.
Danusa e Guilherme decidiram retomar o tratamento em 2013, em uma clínica particular, mas a primeira tentativa também não deu certo. Para a enfermeira, o baque foi tão grande quanto o do diagnóstico, pois tinha certeza de que conseguiria. Então, desistiu, mesmo ainda tendo dois embriões congelados.
A chegada de Helena
Três anos depois, a vontade reapareceu. Mas, antes de tentar mais uma vez, Danusa fez questão de iniciar um acompanhamento psicológico e buscou fortalecer sua espiritualidade. Em maio de 2017, colocaram os dois últimos embriões – procedimento que resultou no nascimento da filha Helena, hoje com cinco anos.
— Consegui ser mãe aos 39 anos, foi uma alegria imensa para nós. Agora, minha filha está pedindo um irmão ou uma irmã. Nunca imaginei que teria outro, mas estamos no processo desde o ano passado. A única notícia triste é que estou entrando na menopausa, então estou com dificuldade de conseguir óvulos, mas vou ser guerreira como fui da primeira vez e não vou desistir — ressalta.
O apoio psicológico buscado por Danusa é considerado fundamental por especialistas, justamente pela dificuldade que mulheres acima dos 40 anos ou com algum problema de saúde têm para conseguir engravidar. Durante o processo, as tentantes podem ficar mais vulneráveis a ansiedade, depressão e estresse, o que ocorre especialmente pelo medo do aborto ou de ter um bebê com alguma malformação cromossômica, comenta a psicóloga perinatal Rafaela Schiavo, que é fundadora do Instituto MaterOnline de Psicologia Perinatal.
— Com a dificuldade para engravidar de forma natural, muitas mulheres optam por fazer procedimentos de reprodução assistida, o que envolve muito dinheiro e muito desgaste emocional, porque nem sempre esse processo vai dar certo, podem ter aborto espontâneo. Então, todos os casais que estão passando por fertilização in vitro precisam de apoio psicológico, não é uma regra, mas é muito importante — enfatiza a especialista.
Com a dificuldade para engravidar de forma natural, muitas mulheres optam por fazer procedimentos de reprodução assistida, o que envolve muito dinheiro e muito desgaste emocional, porque nem sempre esse processo vai dar certo, podem ter aborto espontâneo. Então, todos os casais que estão passando por fertilização in vitro precisam de apoio psicológico, não é uma regra, mas é muito importante
RAFAELA SCHIAVO
Fundadora do Instituto MaterOnline de Psicologia Perinatal
Conforme Rafaela, os níveis extremamente altos de ansiedade podem inclusive trazer consequências negativas, como influenciar no nascimento prematuro do bebê. O acompanhamento também ajuda a identificar se a mulher realmente deseja engravidar ou apenas está cedendo à pressão do parceiro e da família:
— Corpo e mente estão ligadas, não adianta cuidar só de um ou de outro. Muitas vezes a mulher faz várias tentativas de gestar e perde com frequência, mas não tem nada clínico que justifique. Ao investigar, descobrimos que é psicológico.
Além disso, a especialista alerta que a vontade de ter filho pode se tornar algo obsessivo e gerar um desgaste no relacionamento do casal – o que, em determinados casos, pode até mesmo resultar em uma separação. Rafaela aponta que o processo deixa de ser saudável quando a pessoa passa a focar exclusivamente no objetivo da gravidez, abandonando suas atividades profissionais e sociais com a família e os amigos.
— Sintomas de irritação, culpa, inquietação, choro, pesadelos e medo frequente, vontade de se isolar de tudo, não ter mais interesse nas coisas como tinha antes e não conseguir pensar em outras coisas podem ser sinais de que a mulher ou o homem estão em sofrimento psíquico significativo e que precisa de acompanhamento especializado — enfatiza.