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A história inusitada do resgate de um brinquedo em Joinville, no norte de Santa Catarina, comoveu a equipe do Corpo dos Bombeiros Voluntários de Joinville e ganhou as redes sociais nos últimos dias. O pedido incomum para "salvar" um boneco que havia caído de uma sacada sensibilizou a todos que se envolveram no episódio.
— Eu estava em uma parte do quartel quando a central nos chamou para realizar um serviço extraordinário. A gente sempre realiza serviços extraordinários, como pegar gambá, cobras, mas nunca imaginamos que seria um boneco — contou o bombeiro voluntário Heveraldo Barbosa dos Santos, 46 anos.
O brinquedo pertence a Sérgio da Silva, 49 anos. Nico, como foi batizado o boneco, chegou na família há aproximadamente oito anos, pouco depois de seu dono se encantar com a boneca de sua sobrinha. Sérgio possui deficiência intelectual e, por isso, seu desenvolvimento mental não ultrapassou os seis anos de idade.
Solange da Silva, irmã de Sérgio, relembra:
— Nico chegou no aniversário do Sérgio e desde lá eles são companheiros. O Nico tem roupas, passeia de carro, tem um bebê conforto, dorme ao lado da cama do Sérgio. Ele faz parte da nossa família.
Eles só se separam em um momento: quando Sérgio vai para a aula. Ele frequenta a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) local durante a semana, à tarde. Antes de sair, porém, explica ao Nico que, em algumas horas, estará de volta.
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A amizade dos dois é tão forte que, quando o boneco caiu, Sérgio ficou desesperado e chorou muito. Nico estava tomando banho de sol quando caiu da sacada. A queda foi no telhado da garagem do prédio onde mora a família. A altura do local dificulta o acesso.
— Tive a ideia de ligar para os bombeiros, explicar que é uma situação especial. Sérgio não queria comer, dizia que o boneco tinha morrido — contou Solange.
Ao chegar ao local, os bombeiros voluntários perceberam que não seria um resgate simples.
— Foi demorando tanto que os vizinhos começaram a sair e perguntar o que estava acontecendo. Até que passaram a nos ajudar, dizendo "mais para a direita, mais para a esquerda" — relembra Santos.
O momento que mais marcou o bombeiro voluntário foi o reencontro dos dois companheiros – Sérgio não estava no local durante o resgate.
— Meu olho encheu d'água. Ele desceu do carro correndo e abraçou o boneco como um pai abraça o filho. Conseguimos ouvir ele dizendo "estou aqui, nada mais vai te acontecer" – recorda.
Quatro bombeiros voluntários participaram do resgate: Pedro Fleith, José Custódio Farias, Heveraldo Barbosa dos Santos e Valdecir Preusser. Eles decidiram tirar uma foto para guardar como recordação, mas não imaginaram que haveria tanta repercussão ao postar a imagem em uma rede social – 15 mil likes e cerca de 5 mil compartilhamentos.
— Em meus 32 anos como bombeiro voluntário, nunca passei por uma situação assim. Foi uma sensação gratificante. Acho que devemos olhar a todos igualmente, sem preconceito, sem distinção. O Sérgio é um rapaz especial, foi lindo poder ajudá-lo – finalizou Santos.
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