O Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) pediu no domingo (12) para a Justiça reconsiderar a decisão de suspender a posse de Elenir Winck, eleita no sábado (11) a nova presidente da entidade por critério de desempate. Agora, a juíza Carmen Lúcia Constante Barghouti, da 2ª Vara Cível de Lajeado, responsável pela suspensão, avaliará quem deve assumir o posto de líder da entidade que protege a história e a tradição dos gaúchos. A decisão deve sair nos próximos dias.
O caso está acirrando os ânimos do MTG porque, pela primeira vez na história do movimento, houve empate nas eleições para a presidência e, também de forma inédita, a vencedora será uma mulher.
A nova presidente terá mandato de um ano à frente do MTG, entidade que congrega 1.532 CTGs e 630 piquetes em todo o Rio Grande do Sul. Até a definição da vencedora, Nairo Callegaro segue como presidente da entidade.
Entenda o imbróglio
O que ocorreu?
No sábado (11), durante o 68º Congresso Tradicionalista, em Lajeado, as candidatas Elenir Winck, 61 anos, e Gilda Galeazzi, 65, receberam cada uma 530 votos, resultado inédito na história do movimento tradicionalista gaúcho. Segundo o critério de desempate previsto no regulamento, a vitória é da chapa que tiver o candidato mais idoso (leia o artigo 127 da legislação tradicionalista).
Ao analisar essa regra, a comissão eleitoral do MTG deu a vitória a Elenir porque, apesar de ser mais nova, a chapa dela trazia, entre os integrantes, Wilson Barbosa de Oliveira, de 77 anos – o integrante mais idoso dentre os dois grupos concorrentes.
O argumento do MTG é de que as eleições para presidente da entidade seriam parlamentaristas, e não presidencialistas: vota-se todos os anos em uma chapa (equivalente a um partido) para renovar metade do conselho diretor do movimento, que agrupa mais de 30 pessoas. Esse grupo, então, vota em quem assumirá a presidência. Portanto, segundo a entidade, todos os inscritos na chapa durante as eleições deveriam entrar na avaliação para o critério de desempate.
Após ser derrotada, Gilda, que é mais velha, recorreu à Justiça para suspender a posse de Elenir, que é mais nova. O argumento é de que, segundo as regras do MTG, o desempate não é a idade de integrantes da chapa, mas sim dos candidatos à presidência do MTG – portanto, apenas deveriam ser levadas em conta a idade das duas concorrentes. A ação foi analisada no domingo pela juíza Carmen Lúcia Constante Barghouti, que concedeu liminar (decisão imediata e temporária) para suspender a posse de Elenir.
Por ter uma decisão da própria comissão eleitoral questionada, o MTG entrou no domingo com pedido para que a juíza reconsidere a decisão. Agora, o caso será avaliado pela mesma juíza que suspendeu a posse de Elenir.
O que diz o MTG?
Para o MTG, as regras definem que quem deveria vencer é Elenir. Em nota divulgada nesta segunda-feira (13), a entidade diz que as eleições são em um sistema parlamentarista, e não presidencialista: vota-se em uma chapa (chamada de Conselho Diretor) com mais de 30 pessoas. Esse grupo, uma vez eleito, vota em quem assumirá a presidência.
No texto divulgado nesta segunda, o movimento tradicionalista afirma que está "tranquilo" em relação ao imbróglio. "A ordem judicial está sendo cumprida, mas não se acredita que, feita uma análise completa da legislação, a Justiça entenderá diferente do que a posição da Comissão Eleitoral".
O que diz Elenir, que venceu a eleição?
Elenir afirmou a GaúchaZH nesta segunda-feira que se manifestará apenas após decisão da Justiça.
O que diz Gilda, que perdeu a eleição e entrou na Justiça para anular a posse de Elenir?
Em entrevista a GaúchaZH, Gilda argumenta que, segundo o regulamento, ela é a candidata mais velha e, por isso, deve ser eleita.
— Caso a liminar seja mantida, acredito que tomarei posse. Caso seja cassada, vou recorrer. Há também possibilidade de pedir nova eleição, mas para mim está claro: o regulamento prevê que assuma a presidência a candidata mais velha, em caso de empate. E sou eu a mais velha.
Em nota, sua chapa diz que "é público e notório" que o que estava em jogo nessa eleição eram duas candidatas mulheres. "Assim, temos recebido dezenas de mensagens de patrões, alegando que foram enganados. Porque viajaram centenas de quilômetros para votar em uma candidata e não em um conselheiro, concordando com nossa interpretação de que Gilda Galeazzi, por ser a candidata mais velha, seria a nova presidente do MTG".