Por Eduardo Pellanda
Professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Famecos/PUCRS
Em 2017, completamos 22 anos de internet comercial no Brasil e 10 anos do lançamento do iPhone, que provocou uma nova forma de nos comunicarmos na rede. Transformações como essas foram decisivas para reorganizar o ecossistema midiático e inaugurar novas conexões de linguagens.
Até a década de 1990, tínhamos suportes físicos para conduzir informações analógicas. Com a introdução do CD, começamos a discutir o sentido de transportarmos bits ao invés de átomos, como na época provocava Nicholas Negroponte, do MIT. A questão central aqui é que, no momento em que a rede passou a ser o "suporte" para as comunicações e toda a informação passou a ser digital, as fronteiras começaram a borrar. No ambiente pré-internet, tínhamos bem clara a analogia do papel transportando textos e fotos ou as ondas analógicas hertizianas transportando sinais de áudio e vídeo. Os diálogos entre essas linguagens eram barrados pelos canais de transmissão e aparelhos suportes.
No final dos anos 1990, começaram a aparecer os primeiros estudos acadêmicos sobre a "convergência", que era o caminho claro de conexão entre as mídias. Como as moléculas de água que entram em entropia quando expostas a determinada temperatura, as linguagens e os formatos midiáticos entraram em ebulição pelo choque constante entre partes antes separadas. À medida que passou o tempo, ficou claro que o processo de convergência era natural no ambiente digital em diversas situações. Desde sites de rádios e jornais se cruzando até interesses comuns se conectando em redes sociais online.
Havia um vácuo entre as linguagens, e paulatinamente as conexões foram sendo evidenciadas. Soma-se a isso a liberdade temporal que a rede propunha por não precisar estar dentro de uma grade de horários ou rotina de publicação e o fator da complexidade aumenta exponencialmente. A imagem em movimento não precisa ter 30 minutos de um programa de TV ou 120 minutos de um filme. Pode ser um GIF animado de 5 segundos e contar uma história pertinente para aquele determinado contexto. Discos, ou obras musicais, podem ser de duas ou três músicas e livros podem ter 10 páginas, como no Amazon Singles.
Nesse ponto, surgiram também novas formas de inter-relações de narrativas, como intermídia, crossmídia e transmídia. Nesse cenário, a história flui em diferentes contextos de espaço e tempo para contar um enredo em mais de uma direção. Pode-se ver um filme no cinema e acompanhar uma página nas redes sociais sobre o desenvolvimento das personagens. Pode-se convergir ficção com realidade ou real com virtual.
Em um ambiente ubíquo de informações no qual smartphones, tablets e laptops são nossas extensões para o ciberespaço, e smatwatches ou smartglasses fazem "vestirmos" a informação, temos ainda o contexto emergente de IoT. A sigla em inglês para Internet of Things, ou Internet das Coisas, é a última fronteira para conectar o que está ao redor de nós e também objetos com objetos. A internet cresce em complexidade, e as convergências podem aparecer de uma nova forma. Teorias precisam ser revistas e novas metodologias para esses objetos começam a brotar.
Esses elementos fazem parte do contexto de discussão que a 14ª edição do Seminário Internacional da Comunicação (Seicom), promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Famecos/PUCRS vai realizar. Além das presenças de 10 conferencistas de Brasil, França, Itália, Suécia e Canadá, 14 grupos de trabalho desenvolverão conversas que abrangem boa parte do espectro dos estudos da área. Foi essa tradição de trazer grandes pensadores e trabalhar as mudanças impostas nos últimos tempos que tornou o evento uma referência internacional.
SERVIÇO
XIV Seminário Internacional de Comunicação – Mídias em Transformação: Intermídia, Transmídia, Crossmídia
> De 6 a 8 de novembro, no Teatro PUCRS e na sede da Faculdade de Comunicação Social (Famecos), em Porto Alegre. A programação, que inclui conferências, entre outros, de Lars Elleström e Derrick de Kerckhove, além de informações sobre inscrições, pode ser acessada em projetos.eusoufamecos.net/sic2017.