Está completando 15 anos de implementação no Rio Grande do Sul o programa de apadrinhamento afetivo, que proporciona a crianças e adolescentes em situação de abandono uma oportunidade de construírem laços afetivos e uma convivência familiar. A entidade pioneira no Estado foi a ONG Instituto Amigos de Lucas, em Porto Alegre, que, nesse período, promoveu 960 apadrinhamentos.
Os padrinhos podem visitar os afilhados regularmente nas instituições de acolhimento, acompanhá-los em eventos e atividades, realizar passeios ou, ainda, levá-los para dormir em casa. O padrinho se torna uma referência para o jovem quando atinge a maioridade.
– Ser padrinho ou madrinha implica disponibilidade de tempo e afeto para se dedicar ao afilhado uma vez a cada 15 dias. Seja para levar para casa em um final de semana ou para oportunizar um lanche ou um cinema à criança – diz a promotora da Infância e da Juventude, Cinara Vianna Dutra Braga.
O foco do programa são crianças e adolescentes destituídos do poder familiar, ou seja, que não têm mais contato com as famílias de origem e com poucas perspectivas de adoção por não se encaixarem no perfil de preferência da maioria das famílias.
– O apadrinhamento abre porta para aquelas crianças que não são visíveis – afirma a presidente da Amigos de Lucas, Rosi Prigol.
A iniciativa não concede a guarda das crianças e dos adolescentes aos padrinhos. No entanto, o apadrinhamento não inviabiliza a adoção dessas crianças. Inclusive, há casos de padrinhos que adotaram os afilhados. Entre os benefícios do apadrinhamento, está a melhora na autoestima das crianças e dos adolescentes. É o caso de Pedro (nome fictício, para que a identidade da criança seja preservada, conforme determina o ECA), 11 anos, acolhido em uma das casas lares do Abrigo João Paulo II, que foi apadrinhado pela psicóloga Fernanda, 27 anos.
– Ele era um menino muito introspectivo e excluído, que tinha dificuldades de relacionamento na escola – afirma a coordenadora técnica do Abrigo João Paulo II, Camila Monteiro. – A partir do apadrinhamento, ele se tornou uma criança mais alegre e entusiasmada, apresentando melhoras no colégio. É emocionante!
A criação desse vínculo também provoca mudanças nos padrinhos.
– Foi uma conquista a cada encontro, que acabou construindo uma relação de confiança e um amor muito genuíno pelo meu afilhado. Não consigo nem resumir o quanto aprendi. Muito especial pensar nas nossas propostas de encontros, como ir na livraria ou fazer passeios aos finais de semana – conta Fernanda.
Iniciativas têm apoio da justiça
Com o intuito de expandir o programa para todo o Estado, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) criou o projeto Apadrinhar, realizado pela Coordenadoria da Infância e da Juventude do Rio Grande do Sul.
– A ideia é sensibilizar as entidades de acolhimento, principalmente do interior do Estado, para que implementem o programa de apadrinhamento afetivo. Foram desenvolvidas diretrizes para aplicação do projeto com intuito de dar a base necessária para que os juízes, mesmo das pequenas comarcas, possam conduzir o processo – diz a assistente social da Corregedoria Geral de Justiça do Rio Grande do Sul Angelita Rebelo de Camargo.
Os interessados em se tornarem padrinhos afetivos precisam ter mais de 18 anos e serem, no mínimo, 10 anos mais velhos do que o afilhado – que deve ter mais de oito anos. É necessário fazer uma inscrição na instituição de acolhimento que oferece o programa e passar por um processo de capacitação, que envolve várias etapas, como encontros mensais, cursos e oficinas. O programa é supervisionado pelo Ministério Público e pelo Juizados da Infância e da Juventude.
A Fundação Pão do Pobres está com inscrições abertas até esta segunda-feira para a primeira edição de seu programa de apadrinhamento. Em Porto Alegre, o Instituto Amigos de Lucas, o Abrigo João Paulo II, a Ação Social Aliança e a Fundação de Proteção Especial do Estado (FPE) também têm iniciativas próprias deste tipo.
Participe
Para ser padrinho ou madrinha é preciso ser maior de 18 anos e ter, no mínimo, 10 anos a mais do que o afilhado (a).
Não são aceitas pessoas com antecedentes criminais.
É preciso realizar as oficinas de capacitação e sensibilização.
Inscrições
Fundação Pão do Pobres – Até esta segunda-feira.
Fundação de Proteção Especial do Estado (FPE) – Até 24 de setembro.
Abrigo João Paulo II – Abrem em 1º de setembro.
Instituto Amigos de Lucas – Abertas o ano inteiro.
Ouça o áudio da reportagem