Manuela Tavares Anderson, seis anos, acordou na última sexta-feira (23) com a garganta irritada. A menina, que mora com os pais em Pelotas, na região sul do Estado, foi para a escola normalmente, mas precisou voltar para casa no meio da tarde em função de uma febre. A mãe, Angela Tavares, 41 anos, a medicou e procurou um médico no sábado (24) pela manhã. Aparentemente, a pequena estava com uma infecção. O médico receitou um antibiótico e mandou-a de volta para casa.
No mesmo dia, ela começou a urinar sangue e retornou para o Hospital Universitário São Francisco de Paula, onde permanece internada. A partir de então, o quadro clínico da menina piorou. Segundo a mãe, Manuela passou a vomitar sangue. Na noite de quarta-feira (28), precisou ser colocada num respirador artificial. Na manhã de quinta (29), foi sedada e entubada. Uma biópsia do rim foi encaminhada para Belo Horizonte.
Leia mais
"Não gostaria de cortar leitos", diz presidente do Hospital de Clínicas
Hospital Vila Nova recebe 33 leitos para reforçar atendimento
Rio Grande do Sul perde 474 leitos do SUS em hospitais em dois anos
– Tem alguma coisa destruindo o organismo dela, disseram que trata-se de uma doença rara, mas ainda não sabem exatamente o que é. Isso é desesperador – lamentou a mãe.
As limitações tecnológicas do hospital impedem que a criança tenha um diagnóstico, por isso, a unidade está tentando transferi-la para um hospital de referência em Porto Alegre. Como não há leitos disponíveis na Capital, a mãe, que é advogada, entrou com pedido de liminar e conseguiu deferimento da juíza Beatriz da Costa Koci na noite de quarta.
"O diagnóstico da médica pediatra refere, com clareza, a piora progressiva do quadro da menor, a necessidade de equipe médica especializada pediátrica e, consequentemente, para tal fim, a transferência para Porto Alegre. Resta claro que a menor necessita realizar tratamento médico de urgência já que enfrenta risco de morte", diz a decisão judicial.
Além de vaga em leito de UTI pediátrica, a menina precisa ser transferida por transporte aéreo, a fim de evitar complicações de risco no estado de saúde dela.
"Defiro o pedido de liminar para determinar a imediata transferência da menor Manuela para hospital de Porto Alegre que possua UTI Pediátrica, pelo meio de transporte mais adequado, inclusive por via aérea, sob as expensas do ente público", destacou a juíza.
Até as 15h desta quinta-feira, a menina ainda não tinha conseguido uma vaga na Capital. Segundo o médico responsável pela regulação de leitos da Secretaria Municipal da Saúde de Porto Alegre, Jorge Osório, o caso de Manuela está sendo tratado como prioridade. O departamento está em contato com os hospitais de referência para ver se consegue a alta de algum paciente para encaixar a menina.
Além de Manuela, há oito crianças do Interior aguardando vaga em leitos de UTI pediátrica e 15 adultos esperando leitos de UTI. A regulação prioriza os pacientes mais graves, mas as decisões judiciais podem furar a fila de espera.
– A gente precisa de um leito e que as pessoas rezem por ela – clamou a mãe.
Na tarde desta quinta-feira, o secretário municipal da Saúde, Erno Harzheim, garantiu que a paciente é a primeira da fila na espera de leitos em função das possibilidades que ela tem de recuperação caso receba o atendimento adequado.
– É uma criança com total chance de ter uma vida normal se conseguir passar por essa crise. Essa escolha é muito difícil de fazer (sobre regulação de atendimento) – disse durante um debate sobre saúde no Ministério Público.
A assessora técnica do Hospital Universitário São Francisco de Paula Renata Gelain Dorneles Santos informou que a unidade está buscando leito tanto pelo SUS quanto na rede particular.
– Essa situação (de falta de leitos) é dinâmica e pode ser alterada a qualquer momento. A Manuela está recebendo toda a assistência que nossa capacidade técnica possui.
Lotação na Capital
"A gente precisa de um leito e que rezem por ela", diz mãe de criança que aguarda vaga em UTI
Menina de seis anos está internada em Pelotas e precisa de UTI em Porto Alegre. Secretaria da Saúde disse que caso é tratado como prioridade
Schirlei Alves
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project