O projeto que reconhece a união estável entre pessoas do mesmo sexo foi aprovado na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado nesta quarta-feira. Apesar de o texto ter sido aprovado em caráter terminativo, podendo seguir diretamente para a Câmara, o senador Magno Malta (PR-ES) vai apresentar um recurso ao plenário para tentar barrá-lo. Segundo Malta, o plenário acabará com "essa aberração".
Leia também:
Uniões homoafetivas cresceram seis vezes mais que as heteroafetivas em 2015
Finlândia aprova casamento homossexual
Integrante da bancada evangélica, Malta foi apoiado pelos senadores Eduardo Amorim (PSDB-ES) e Eduardo Lopes (PRB-RJ).
– Esse é um país majoritariamente cristão. Tenho certeza de que, lá no plenário, nós mandaremos para o lixo o projeto, onde é o lugar devido – afirmou o senador.
O recurso deve ser apresentado em até cinco dias úteis e deve ter o apoio de, pelo menos, oito senadores. Malta afirma já possuir assinaturas necessárias.
De autoria da senadora Marta Suplicy (PMDB-SP), o projeto foi aprovado na forma de substitutivo do senador Roberto Requião (PMDB-PR), em 8 de março. A decisão foi confirmada nesta quarta pela CCJ em votação simbólica.
– Finalmente, temos no país um avanço extraordinário. Desde 2008, tentamos aprovar o casamento homoafetivo – comemorou Marta, lembrando que a proposta enfrentou resistência na Câmara e no Senado nos últimos anos.
Atualmente, o Código Civil reconhece como entidade familiar "a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família". Com o projeto de Marta, a lei será alterada para estabelecer como família "a união estável entre duas pessoas", mantendo o restante do texto do artigo.
A proposta determina ainda que a união estável "poderá converter-se em casamento, mediante requerimento formulado dos companheiros ao oficial do Registro Civil, no qual declarem que não têm impedimentos para casar e indiquem o regime de bens que passam a adotar, dispensada a celebração".
O projeto dá forma de lei para decisões já tomadas pelo Judiciário. Em 2011, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) reconheceram a união estável em pessoas do mesmo sexo. Em 2013, resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) obrigou os cartórios a converter essa união estável em casamento. Marta justifica, no entanto, que ainda há casos de recusa, fundamentada na inexistência de previsão legal expressa.
O projeto de lei tem como objetivo eliminar as dificuldades nesses casos. Requião também observou em seu parecer que é responsabilidade do Legislativo adequar a lei em vigor ao entendimento consagrado pelo STF.
Após a primeira votação da proposta na CCJ, em março, Magno Malta apresentou emenda ao texto, que foi rejeitada pelo relator nesta quarta por ser considerada equivalente a um substitutivo ou "voto em separado", o que é vedado na análise em turno suplementar, ou seja, seria antirregimental. Com a emenda que apresentou, Malta pretendia manter o instituto do casamento, no Código Civil, apenas como ato entre um homem e uma mulher.
Para rejeitar a emenda, Requião reafirmou que a interpretação do STF relativa ao dispositivo constitucional sobre o casamento atribui aos pares homossexuais o direito ao casamento civil. Sustentou que esse é o princípio a ser admitido em lei, ainda que o colega senador resista à ideia, com base em "princípios morais que não admitem o casamento homoafetivo".