Em 2010, voltei ao Haiti a convite do Exército brasileiro, que integrava uma missão no país que acabara de ser sacudido por um terremoto. Em 1995, eu visitara pela primeira vez Porto Príncipe, como enviado da RBS, para cobrir a invasão americana.
Quinze anos depois, fiquei albergado em uma base militar. Tive de assinar um documento eximindo as Forças Armadas de qualquer responsabilidade para poder sair do local sozinho. Graças à intermediação de um amigo, iria entrevistar um candidato à Presidência. A eleição estava marcada para algumas semanas depois.
Cheguei ao comitê e fui logo recebido pelo político. Conversávamos sobre democracia quando ouvi uma algazarra do lado de fora da sala. Imediatamente, entrou um assessor nervoso e esbaforido, me puxou pelo braço e me conduziu, correndo, a uma saída lateral de emergência. Eu só ouvia barulho de gritos, vidros quebrados e estrondos no caminho para a rua, onde cheguei em segurança.
Não sei até hoje o que aconteceu lá dentro. Mas sei que aquele era só mais um dia no Haiti.