Ainda que o sistema de votação do Oscar de melhor filme deixe margem para uma surpresa (como expliquei nesta coluna), só uma gigantesca reviravolta tiraria a estatueta dourada de Oppenheimer (2023). A cada troféu prévio, a cinebiografia dirigida por Christopher Nolan aumenta o favoritismo atribuído em 23 de janeiro, quando despontou como líder em indicações da premiação da Academia de Hollywood.
Oppenheimer disputa 13 categorias: além de melhor filme, é concorrente em direção, ator (Cillian Murphy), ator coadjuvante (Robert Downey Jr.), atriz coadjuvante (Emily Blunt), roteiro adaptado, fotografia, edição, design de produção, figurinos, maquiagem e cabelos, som e música original.
O título sobre o físico considerado o pai da bomba atômica tem tudo o que a Academia quer: respaldo da crítica, engajamento do público — com mais de US$ 950 milhões arrecadados, foi a terceira maior bilheteria de 2023, atrás apenas dos bilionários Barbie e Super Mario Bros: O Filme — e sintonia com o contexto político. Tanto com o dos Estados Unidos, sacudido pela tradicional polarização que antecede as eleições presidenciais, quanto o do mundo, assustado pelas guerras como Rússia contra Ucrânia e Israel versus Hamas. A trama reconstitui um capítulo doloroso da história estadunidense: o bombardeio de Hiroshima, no Japão, em 6 de agosto de 1945, nos estertores da Segunda Guerra Mundial. Estima-se que morreram entre 90 mil e 166 mil pessoas, a maioria civis, no ato da explosão ou por causa do efeito de queimaduras e do envenenamento radioativo.
A cinebiografia vem vencendo todos os prêmios concedidos pela indústria cinematográfica (que vota no Oscar) ou pela crítica (que influencia). Os mais recentes triunfos ocorreram neste fim de semana. No sábado (24), no SAG Awards, do Sindicato dos Atores dos EUA, Oppenheimer ganhou nas categorias de melhor elenco, ator (Murphy) e ator coadjuvante (Downey Jr.).
No domingo (25), faturou um dos principais termômetros para o Oscar de melhor filme: o PGA Awards, concedido pela Associação dos Produtores dos EUA. Oppenheimer tinha os mesmos nove adversários do Oscar: Anatomia de uma Queda, Assassinos da Lua das Flores, Barbie, Ficção Americana, Maestro, Pobres Criaturas, Os Rejeitados, Vidas Passadas e Zona de Interesse. A escolha dessa entidade coincidiu com a da Academia de Hollywood em 24 das 34 edições já realizadas — e em cinco dos últimos seis anos, incluindo 2022, quando No Ritmo do Coração desbancou o outrora favorito Ataque dos Cães; só não deu dobradinha em 2020, quando, no Oscar, Parasita derrotou 1917.
O Sindicato dos Diretores dos EUA também laureou Christopher Nolan, que já pode ensaiar seu discurso de agradecimento. Nas 51 edições do DGA Awards, houve dobradinha com o Oscar em 44 vezes. Há também um fator mais subjetivo: muitos dos quase 10 mil votantes da Academia podem entender que chegou a hora de premiar o cineasta britânico de 53 anos que já havia sido indicado cinco vezes à estatueta dourada. A primeira foi como coautor do roteiro original de Amnésia (2000), escrito com seu irmão, Jonathan Nolan. Depois, como roteirista e coprodutor, ao lado de sua esposa, Emma Thomas, de A Origem (2010). E novamente como um dos produtores e também como diretor de Dunkirk (2017).
No Bafta, da Academia Britânica, Oppenheimer conquistou sete categorias: melhor filme, direção, ator, ator coadjuvante, fotografia (Hoyte van Hoytema), edição (Jennifer Lame) e música original (Ludwig Göransson).
No Globo de Ouro, da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, levou cinco troféus: filme de drama, direção, ator em drama, ator coadjuvante e música original.
No Critics Choice, realizado por críticos de internet, rádio e TV dos Estados Unidos e do Canadá, foram oito: filme, direção, elenco, ator coadjuvante, fotografia, edição, música original e efeitos visuais.
No total, Oppenheimer já soma mais de 300 prêmios e distinções, incluindo a presença nas listas de 10 mais do American Film Institute e da National Board of Review. Antes da cerimônia do Oscar, em 10 de março, ainda tem pela frente duas premiações importantes. No dia 3, saem os resultados do troféu do sindicado dos diretores de fotografia e do Eddie Awards, entregue pelos editores (concorre na categoria de filme dramático). Depois do Oscar, em 14 de abril, Christopher Nolan disputa o prêmio de roteiro adaptado no WGA Awards, do Sindicato dos Roteiristas dos EUA.