Com menos de 15 minutos pode-se perceber que A Cidade dos Piratas demorou mais de 25 anos entre sua ideia e a estreia, na quinta-feira (31). É como se o filme tivesse cinco começos, uns interessantes, outros menos, e não tarda a ficar claro que nem todas as tramas foram amarradas ou conversam entre si. Isso é consequência de um trabalho que, ao alongar-se no tempo previsto para sua produção, viu a ficção ser atropelada pela realidade: no meio do caminho, Laerte, o genial cartunista paulista que criara os Piratas do Tietê em 1983, passou a ser A genial cartunista paulista, agora renegando os filhos famigerados, por considerá-los "múmias machistas". O diretor gaúcho Otto Guerra (que nesse intervalo lançou outras duas animações, Wood e Stock: Sexo, Orégano e Rock’n’roll, em 2006, e Até que a Sbórnia nos Separe, em 2014) e os roteiristas até que se viraram bem com esse contratempo, acrescentando à animação trechos metalinguísticos (em que o realizador aborda essa situação) e documentais (com depoimentos e entrevistas da própria Laerte). Mas, a despeito de uma série de momentos sublimes e de reflexões tanto sobre a vida íntima das pessoas quanto sobre a vida pública no Brasil, falta uma cola, uma coesão, fazendo da obra menos um longa-metragem e mais uma sucessão de esquetes intercalados.
Em cartaz
"A Cidade dos Piratas" é o "Otto e Meio" da animação brasileira
Diretor Otto Guerra levou mais de 25 anos para adaptar quadrinhos de Laerte. Demora cobra seu preço, mas também oferece recompensas
Ticiano Osório
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