O comportamento já era assim na pré-pandemia: os brasileiros não são muito ciosos dos pontos que acumulam em programas de fidelidade. Segundo a Associação Brasileira das Empresas do Mercado de Fidelização (ABEMF), entidade fundada em 2014 reunindo as principais empresas do setor, os consumidores deixaram expirar 16,8% dos pontos/milhas acumulados em 2019 e 15% em 2020.
— É dinheiro jogado fora. As pessoas perdem por falta de informação, por distração, por não dar importância ao assunto. Usufruir das milhas é um direito, é bom as pessoas saberem isso. Para quase tudo hoje existe um programa de fidelidade e você pode receber de volta um pouco do que gastou —alerta o engenheiro Rodrigo Góes, sócio de uma empresa de marketing digital que se tornou especialista em acumular milhas e ensinar aos outros como fazer o mesmo.
Na última década, o baiano de 34 anos afirma ter juntado 70 milhões de milhas e conhecido 41 países com pontos de programas variados (além de cartões de crédito e programas de companhias, ele participa de três clubes). Fez isso de tal forma, que virou profissional: no ano passado, lançou o livro O Mapa para Acumular 1 Milhão de Milhas, disponível em e-book (R$ 24,99), que figura entre os mais vendidos de sua categoria na Amazon, e mantém um curso, o Fábrica de Milhas, pelo qual já passaram 4 mil pessoas.
Góes conta que 95% de suas viagens internacionais são feitas sem gastar com passagens aéreas. Em 2016, a lua de mel para as Ilhas Maldivas e o Catar com a administradora de empresas Elise, 33 anos, teve o ticket aéreo pago com milhas. Sobrou para gastar com hotel e outros luxos. Para 2021, a proposta (principal) era uma volta ao mundo, passando por 14 países, agora tendo a tiracolo a filha de oito meses, Maya. O circuito renderia outro livro, mas os planos, como se sabe, tiveram de ser adiados. Na entrevista a seguir, ele conta sobre como acumular e não perder milhas para garantir viagens no futuro.
"Tem que garimpar", diz Rodrigo Góes
Qual o melhor jeito de se acumular milhas?
Não existe o melhor jeito, existe uma combinação de acúmulos. O mais comum, que as pessoas conhecem, é através dos cartões de crédito ou de programas de companhias aéreas. Mas há outras formas. Por exemplo: respondendo pesquisas, já que alguns sites bonificam as pessoas por isso; através de compras em lojas que têm parcerias com programas de fidelidade, em promoções dos sites; ao abastecer, com programas de postos de gasolina.
O que é mais vantajoso: inscrever-se em vários programas ou concentrar em um cartão ou em poucos programas?
Vai muito de cada pessoa. Eu acho interessante pontuar em vários programas, mas depende da quantidade de pontos que a pessoa consegue acumular. Não adianta pontuar em um monte deles se depois não se consegue usar nada em lugar nenhum. Mas, participando de programas de várias companhias, você consegue aproveitar o que tem de melhor em cada uma delas. Um volume bom para poder aproveitar bem os benefícios de um programa é no mínimo 20 mil a 30 mil milhas em cada um, para conseguir viajar. Senão, é melhor concentrar em um só, um cartão de crédito, por exemplo, para dali distribuir para os programas das companhias aéreas quando quiser viajar.
Neste momento de pandemia, em que não se pode viajar, pelo menos para lazer/férias, vale a pena trocar as milhas por produtos ou vendê-las?
Em algumas condições, vale, se você tiver milhas por vencer e não vai poder usar para viajar. Pode trocar por produtos ou vender e trocar por dinheiro em sites como MaxMilhas ou HotMilhas ou trocar por crédito de combustível, de aplicativos e até mesmo fazer doações para instituições de caridade. Eu mesmo faço uma doação mensal por meio de um dos programas e já transformei em alimentos doados no combate à covid.
Vale a pena reativar milhas vencidas?
Só em promoções, porque para reativar milhas há um custo, e esse custo é elevado. Mas algumas promoções às vezes oferecem até 300% de bônus.
Pode ser apenas uma sensação, mas parece que nos últimos anos é cada vez mais difícil conseguir trocar pontos por passagens aéreas e os programas tentam te forçar a associar-se aos clubes.
Eu não tenho esse sentimento. Eu vou de Salvador ao Rio uma vez por mês, a trabalho, sempre utilizando pontos. Nos últimos anos, fiz quase todas as minhas viagens nacionais e internacionais usando milhas. O que não dá é para deixar para a última hora. Hoje há passagens de São Paulo para a Cidade do México por 50 mil milhas ida e volta ou Rio-Fernando de Noronha por 30 mil. Tem que garimpar. A conta que eu oriento a fazer é ver quanto vale a passagem em dinheiro, comprando na companhia aérea, e quantas milhas essa passagem representa se for emitir com milhas. Exemplo: se a passagem custa R$ 1 mil e equivale a 10 mil milhas, se for vender num site especializado, vai receber em torno de R$ 250. Então, é melhor usar as milhas para emitir a passagem.
O que é uma boa antecedência para a emissão de passagens com milhas?
Para viagens nacionais, de três a quatro meses antes da data do voo. Para internacionais, seis meses. Eu iria para a Ilha da Madeira (Portugal) em final de março, por exemplo, e emiti a passagem em outubro do ano passado.
Diante da falta de previsibilidade, é conveniente aproveitar promoções agora?
Se a pessoa tem vontade de viajar, vale a pena, até porque há flexibilidade para mudar datas em países que estão fechados, de forma gratuita. Mas se o país estiver aberto para receber brasileiros, e a pessoa não quiser viajar por medo, é preciso ver nas regras da passagem se há o direito ou não da mudança de forma gratuita.
Com que frequência costumas viajar? Quanto por cento das viagens usando milhas?
Antes da pandemia, a passeio, de duas a três viagens internacionais por ano, além de umas três nacionais. Hoje, 95% das minhas viagens são com milhas. Para o Exterior, praticamente 100%. Só faço sem milhas se houver uma megapromoção (como uma vez, em 2016, que fui do Rio para Bogotá por R$ 190). Eu avalio diariamente todas as promoções, porque compartilho com os mais de 4 mil alunos que participaram dos meus cursos e recebem essas informações de forma exclusiva.
Quanto tempo se leva para ser um "milionário de milhas"?
Seguindo o meu passo a passo, dá para acumular 1 milhão de milhas em seis meses. Não é preciso consumir muito no cartão de crédito, mas sim seguir uma estratégia. Para os alunos dos meus cursos, quando a pessoa chega a 1 milhão, eu dou uma plaquinha de "milionário de milhas".
Sites e aplicativos úteis
Para se inscrever nos programas das companhias aéreas, é preciso entrar no site de cada uma delas e cadastrar-se. Confira outros sites e aplicativos úteis:
- Oktoplus: reúne os programas de fidelidade em um só lugar e ajuda a acompanhar e organizar saldo, pontos a expirar e regras de todos os programas;
- MaxMilhas: conecta pessoas que querem economizar na viagem com quem quer vender suas milhas;
- HotMilhas: a plataforma compra milhas acumuladas em programas de fidelidade de companhias aéreas brasileiras.
- Rodrigo Góes: orodrigogoes.com.br e @goesrodrigo
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Resgate histórico em Cristal
Cidade com pouco mais de 7 mil habitantes a 160 quilômetros de Porto Alegre, Cristal está usando esse período de pandemia para reestruturar um local histórico e atrair turistas, com um novo olhar, assim que as condições permitirem. Trata-se do Museu Parque Histórico General Bento Gonçalves, que existe desde 1972 e fica na antiga Sesmaria do Cristal, terras doadas por D. João VI ao pai do general farroupilha. Com uma área de 280 hectares, o parque tem mata nativa, campos e banhados. Além das ruínas da casa original de Bento Gonçalves, há também uma possível trincheira da época da Revolução Farroupilha.
Os trabalhos, coordenados pela Surya Projetos, contratada pela prefeitura, incluirão pesquisa histórica, execução de maquetes do parque, de casas de época e uma exposição videográfica com palestras de historiadores e arquitetos. O projeto, a um custo de R$ 79 mil, deve estar concluído em junho.