Para ir
A Estância das Oliveiras fica na Estrada Humberto Jaconi, 495, em Viamão, a 28 quilômetros de Porto Alegre. Você vai em pouco mais de meia hora do centro da Capital. Indo pela BR-290 e acessando a RS-118, há um pequeno trecho de estrada de chão. Informações: (51) 99813-0919.
Eu diria que aquele sábado foi completo. Teve da minúscula formiga roubando uma migalha do nosso piquenique na toalha verde xadrez à explicação detalhada do patriarca da família Goelzer sobre técnicas de cultivo das oliveiras e extração do azeite. Não faltou música para emoldurar o entardecer perfeito. A temperatura e o sol forte pediam protetor solar e chapéu, mas a sombra da figueira centenária deixava a temperatura tão amena que a sensação de conforto se manteve por horas.
Esse pequeno paraíso desenhado em um único dia fica a menos de 30 quilômetros de Porto Alegre, começou a funcionar há menos de dois meses, mas carrega a história de uma família que, desde 1992, descobriu que preservar o ambiente e fazer disso um negócio poderia garantir o sustento de gerações. A Estância das Oliveiras é o retrato da persistência da matriarca, a professora Sônia Sittoni Goelzer, fundadora da Quinta da Estância, da teimosia do patriarca, Lucídio Morsch Goelzer, e do empenho dos três filhos, André, Lucas e Rafael.
As primeiras das agora 5 mil mudas de oliveiras que se esparramam na área total de 150 hectares da propriedade (26 deles só com oliveiras) resultaram da obstinação de Lucídio, apesar da análise pouco promissora dos especialistas. Ele fincou pé, estudou, conheceu olivais e lagares (o local onde se extrai o azeite) no mundo, plantou e arrancou mudas, corrigiu o solo, selecionou espécies e, depois de mais de uma década de erros e acertos, a família colheu os frutos e coletou nos últimos dois anos o azeite que, segundo a história, é produzido pelo homem, principalmente em áreas mediterrâneas, há mais de 6 mil anos, um dos itens indispensáveis da famosa dieta daquelas regiões.
No Rio Grande do Sul, essa história é bem recente, tem menos de duas décadas: há cerca de 300 produtores e 13 lagares, com 7 mil hectares cultivados com oliveiras. A melhor colheita, até agora, foi a de 2019, com produção de 190 mil litros de azeite. Neste ano, a estimativa é de que fique "no caminho do meio" entre esse recorde e os 48 mil produzidos em 2020, estima Paulo Marchioretto, presidente do Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva). Mas é melhor você ir até a Estância das Oliveiras ouvir sobre esta saga contada diretamente pela família Goelzer (André tornou-se mestre de lagar, especialista na arte de fazer o azeite) ou por um dos biólogos que acompanha a visita guiada ao olival mais próximo, ao lagar e a uma rápida degustação (sim, para quem não sabe, azeite se degusta).
Vou reservar o resto do espaço para dizer que a estrutura da Estância das Oliveiras é incrível. A base de tudo é um casarão de 600 metros quadrados projetado nos anos 1970 por um arquiteto uruguaio e que serviu de modelo para as construções mais modernas _ os antigos quartos, no andar inferior, tornaram-se amplos banheiros e o superior, quem sabe, pode virar hospedagem. Nos anexos, há uma cozinha industrial, o lagar e uma loja que vende o azeite, obviamente, mas também cerâmicas, sabonetes e outros subprodutos das oliveiras.
Experiência
No programa que escolhi fazer, das 14h às 20h, havia a visita guiada à plantação e ao lagar, a degustação e uma cesta de piquenique farta — de brinde, para quem resistiu até o pôr do sol, uma taça de espumante. Mas a experiência pode ser 360 graus: começa de manhã com passeio entre as oliveiras, piquenique, colheita, almoço e, no final do dia, você leva o azeite que resultar da coleta em embalagem com o nome de sua família, além de outros mimos. Neste ano, haverá ainda duas dessas vivências, nos dias 21 e 27 de fevereiro (os frutos coletados serão de duas entre as 36 espécies plantadas, a grega Koroneiki e a espanhola Arbosana). Nessas datas, os almoços terão inspiração na culinária dos dois países.
— É uma experiência única, que poucos têm no mundo — observa Rafael, diretor de Relacionamento com o Mercado, um convincente relações públicas de tudo.
Ressalve-se que se você quiser ficar só atirado sob as árvores o dia inteiro, ninguém o obrigará a nada. De quando em quando, poderá se refrescar com água gelada e/ou saborizada nas duas ilhas estrategicamente distribuídas, onde há café sempre fresco, e com as bebidas do bar Honesty, onde você mesmo se serve e anota em uma comanda a ser paga na saída. Ah, você precisa se inscrever e fazer um cadastro para a reserva (não vá sem cumprir este passo!).
Por último, mas não menos importante, é preciso dizer que os protocolos de segurança da Covid-19 são rigorosos: com medição de temperatura, tapete higienizador, máscara e álcool gel para todo lado (a Quinta da Estância, aliás, esteve entre os primeiros locais turísticos a receber o selo Turismo Responsável, do Ministério do Turismo, e o Safe Travel, do World Travel & Tourism Council, WTTC). A ocupação é de um terço da capacidade permitida pelos protocolos do Estado. Eu me senti segura. E acabei o dia feliz.
P.S.: você pode visitar empreendimentos semelhantes em Gramado (Parque Olivas de Gramado) e Caçapava (Vila do Segredo, cuja pousada foi inaugurada em janeiro). Em Pinheiro Machado, a Estância Guarda Velha/Batalha tem projeto aprovado para um resort, mas as obras estão no início.