Gosto de brincar com palavras, de maneira literal e metafórica. Com amigos, o vinho também entrando na conversa no fim da noite, costumávamos fazer um jogo que consistia em cada um dizer suas palavras favoritas e explicar as razões. Eu tinha/tenho as minhas, nos idiomas que mais ou menos domino. Em português: arandela e cerzir – não por acaso duas palavras em desuso. Em inglês: butterfly (borboleta) e rephrase (reformular/escrever ou dizer de outro jeito). Em espanhol: soledad (ainda mais pronunciada na voz de Jorge Drexler) e dulce – não por coincidência, ambas dispensam tradução e podem ser nomes próprios. Em italiano: arcobaleno (arco-íris) e capolavoro (obra-prima).
Os idiomas, as palavras, são vivos, se movimentam, se modificam. Mas, como as florestas e os animais, precisam ser cuidados e preservados.
Não sou de palavras cruzadas, mas adoro esses jogos/programas do tipo quiz: meus preferidos são os de entretenimento de companhias aéreas e um da TV italiana chamado L'Eredità (La ghigliottina, a parte final, já me conquista só pelo nome). E adoro quando os (mais) jovens da família convidam para brincar, nos encontros do final de ano, de "C e S". Funciona assim: o primeiro jogador diz uma palavra e os seguintes têm de ir falando outra relacionada com aquela; a palavra não pode começar com as letras C e S nem ser repetida (Anitta – música – mulher – feminino – gênero...). Os participantes sucumbem aos poucos, por distração ou cansaço. Os vivas vão para os termos inusitados e há quem recorra ao dicionário para tentar provar que o outro acabou de criar um neologismo.
De dicionário eu gosto também. Criança, era das que abriam uma página aleatória e tentava aprender uma palavra nova por dia – como técnica pode ser questionável, mas me divertia. Pensei, especialmente, em palavras e dicionários nesta semana ao ler um texto sobre a iniciativa de uma editora italiana de dicionários para "salvar as palavras". A Zanichelli, que edita os dicionários Zingarelli, lançou o desafio que percorre grandes cidades italianas, como Milão, Florença e Turim, entre setembro e novembro.
Dicionários em tamanho gigante ocupam pontos de grande movimento e neles 3.126 termos estão sinalizados com uma pequena flor – são as tais palavras a salvar, expressões percebidas como cada vez menos comuns na linguagem falada e escrita e que especialistas temem que desapareçam. As pessoas são convidadas a escolher uma palavra a ser resgatada e se apropriar dela – para os digitais, uso diário no compartilhamento em redes com o devido significado; para os analógicos, cartões a serem enviados a familiares/amigos/conhecidos, com as mesmas informações. Achei comovente. Os idiomas, as palavras, são vivos, se movimentam, se modificam. Mas, como as florestas e os animais, precisam ser cuidados e preservados. Também sob o risco de extinção.