A máxima de que “em time de que está ganhando não se mexe” deveria ser levada em conta pelo governador Eduardo Leite diante da mais nova tentativa de desarquivar um assunto que se imaginava vencido. Trata-se da liberação da venda de bebida nos estádios de futebol, projeto mais vistoso do secretário de Esporte e Lazer, Juliano Franczak, conhecido como Gaúcho da Geral, deputado licenciado para ocupar a secretaria anteriormente comandada por Danrlei de Deus.
Desde que a lei foi instituída, a violência nos estádios diminuiu. Mulheres e crianças passaram a assistir a jogos com mais frequência, com a segurança de que não seriam incomodados por bêbados na cadeira ao lado ou acima. Quem diz isso é a Brigada Militar e o Ministério Público, as mesmas instituições que em 2019 convenceram o governador Eduardo Leite a vetar projeto aprovado pela Assembleia.
Antes de ser convidado para assumir a Secretaria do Esporte e Lazer, Gaúcho da Geral apresentou um novo projeto, que não foi adiante. Agora, na condição de secretário, ressuscita o tema, na esteira de uma proposta do vereador Márcio Bins Ely (PDT). Corretamente, esclarece que o vereador não tem legitimidade para legislar sobre um assunto que é estadual, mas que ele quer liberar para ficar bem com a torcida.
Em uma entrevista à Rádio Gaúcha, o secretário disse que, se depender dele, a posição de Leite em relação à liberação de bebidas alcoólicas vai mudar. Disse mais. Que tem conversado com Leite e com outros integrantes do primeiro escalão e que o governador deixou a porta aberta:
— A gente vem conversando com todos os clubes e inclusive junto ao governo do Estado, junto ao governador. Com a Segurança Pública, com a Brigada, com o Ministério Público, para a gente achar um meio termo. Até a última conversa que eu tive com o governador, ele falou que era possível, que a gente tinha que fazer alguns ajustes e é isso que a gente está trabalhando.
Com tanta coisa para se preocupar, a venda de bebidas nos estádios deveria ser o último item na lista de prioridades de Leite. E não pode ser no canetaço: o que foi proibido por lei só pode ser liberado por outra lei.
E se é para discutir bebida nos estádios, que tal reabrir a discussão sobre a segurança? É razoável que a Brigada Militar deixe outras áreas desguarnecidas para reforçar o policiamento durante os jogos e apartar briga entre torcedores bêbados? Nos últimos anos, os comandantes da Brigada se manifestaram contra a liberação porque têm a memória do antes e do depois da lei. Que um líder de torcida organizada eleito deputado queira a liberação do álcool, dá para entender. Mas quando esse líder é o secretário de Esportes, deveria ter noção do tamanho do cargo e focar em políticas públicas.
Não se sabe se Leite deu autorização ao Gaúcho da Geral para falar por ele enquanto estava em férias. De volta ao trabalho, o próprio governador poderá esclarecer.