Ainda que a Equatorial dê a seus clientes motivos de sobra para reclamar dos serviços prestados, é cedo para dizer que teria sido diferente se a CEEE fosse pública. Porque o temporal mais parecido com o da noite de terça-feira (16) foi o de 29 de janeiro de 2016, quando Porto Alegre foi arrasada por um fenômeno com ventos até mais fortes do que os de agora. No pico, chegou-se próximo aos 120 km/h. O Parque Marinha do Brasil foi devastado e em quase todos os bairros restaram árvores caídas sobre a rede elétrica. Até o Cisne Branco virou com a ventania.
No fim de semana que se seguiu ao temporal de 2016, milhares de famílias tiveram de conviver com a falta de luz e de água. Cinco dias depois, ainda restavam residências sem energia elétrica. À época, a CEEE então estatal pediu e obteve a compreensão dos clientes. Porque era impossível não entender que era inviável restabelecer a energia sem retirar os restos de árvores que se acumulavam sobre a fiação. Havia risco para os operários da própria CEEE e da prefeitura que precisavam operar as motosserras, cortar os troncos e recolher os galhos.
Nas horas que se seguiram ao temporal deste 16 de janeiro, mais de 600 mil residências seguiram sem luz e sem previsão de retomada plena do serviço. No início da manhã, o superintendente técnico da Equatorial, Sérgio Valinho, disse na Rádio Gaúcha que era impossível fazer uma previsão. Mas vaticinou que em algumas pontas de rede a luz pode demorar até quatro dias para voltar.
Os críticos da privatização não pouparam a empresa, esquecendo que também no tempo da CEEE pública a luz demorava para voltar depois de um temporal. Uma das principais queixas é que a Equatorial acabou com a prática de dar uma previsão para o retorno da energia e não permite que os usuários se programem. A direção da empresa diz que não fornece a previsão porque aquele horário era "um chute".
Além dos erros da Equatorial, que parece não ter entendido que comprou uma empresa prestadora de serviço essencial, contribui para essa avaliação negativa a crítica ferrenha de autoridades como o prefeito Sebastião Melo, que culpa a falta de luz pelos alagamentos, já que sem energia as casas de bombas não têm como funcionar, e debita na conta da empresa os problemas de falta d'água nas estações do Dmae.
Melo declarou guerra à empresa e reclama da dificuldade de conversar com os responsáveis. Sabe que está semeando em terreno fértil, porque seus eleitores também estão descontentes com o serviço que recebem.
Aliás
A oposição ao governo de Eduardo Leite, que não engoliu a privatização da CEEE, quer que a Equatorial perca a concessão e o serviço seja reestatizado. O deputado Miguel Rossetto propõe a criação de uma CPI na Assembleia para investigar a Equatorial.