O dilema shakespeariano de ser ou não ser (ministro) é do ex-presidente Lula, mas também da presidente Dilma Rousseff. A resposta deve ser dada hoje, depois de uma nova conversa entre os dois, em Brasília. Até o final da noite desta segunda-feira, a tendência era de Lula aceitar um convite de Dilma para ser chefe da Casa Civil ou secretário-geral do Governo. Em qualquer dos cargos, a tarefa seria a mesma: fazer a articulação política e tentar impedir o impeachment.
Se virar ministro, Lula ganha foro privilegiado, mas será que compensa? Além de não garantir imunidade absoluta, o status de ministro é provisório e a prerrogativa de foro não inclui a família. Se Dilma não conseguir evitar o impeachment, ou se a chapa Dilma-Temer cair no Tribunal Superior Eleitoral, a estratégia vai por água abaixo.
A se confirmar a nomeação de Lula para um ministério, seja qual for, a presidente Dilma Rousseff estará jogando sua última carta para tentar escapar do impeachment. Trata-se de uma jogada de altíssimo risco, já que o efeito pode ser exatamente o contrário. Embalados pelas manifestações de rua, os deputados podem usar uma eventual nomeação de Lula como pretexto para apressar o impeachment, usando o argumento de que a presidente estaria tentando blindar o antecessor das investigações do juiz Sergio Moro.
Se Lula virar ministro, Dilma estará, na prática, abdicando em favor do ex-presidente. É uma espécie de renúncia branca, sem garantia de sucesso. Referindo-se a Lula, o ministro Jaques Wagner usou uma metáfora futebolística e disse que qualquer treinador gostaria de ter Pelé no seu time. De fato, qualquer treinador gostaria de ter Pelé na sua equipe, quando ele era o rei do futebol, mas não hoje, que é um ex-atleta. Dilma precisa mais de um Messi ou de um Neymar, mas em meio à crise está com dificuldade até para contratar jogadores menos conhecidos. O imbróglio que envolveu a nomeação do ministro da Justiça é a prova dessa impossibilidade de montar uma equipe capaz de ganhar pelo menos um campeonato regional.
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Ser ou não ser ministro, eis a questão
Leia a coluna publicada na edição desta terça-feira em ZH
Rosane de Oliveira
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