Lula acerta ao designar André Aranha Corrêa do Lago como presidente da COP de Belém, que se realizará em novembro. Poderia ter sido uma escolha política: a ministra do Meio Ambiente Marina Silva, por ser filha da Amazônia e por seu reconhecimento internacional, seria a decisão preferida dos ambientalistas. O vice e ministro do Desenvolvimento Geraldo Alckmin, pela interlocução com a indústria, seria o preferido do mercado. Mas Lula quis evitar um integrante do primeiro escalão, entendendo que a conferência do clima costuma sugar todas as energias e capital político do chefão da COP, o que poderia acarretar em atrasos nas entregas das próprias pastas.
Ao escolher um diplomata, o presidente também evita o erro dos dois anfitriões anteriores, cujas trajetórias estavam atreladas à indústria petrolífera. Em Dubai, a COP28 foi marcada pela polêmica em torno do sultão Al Jaber, chefe da estatal Abu Dhabi National Oil Company e ministro da Indústria e Tecnologia Avançada. Em Baku, a COP30 teve como líder Muktar Babayev, titular da pasta da Ecologia e Recursos Naturais e ex-chefe da empresa petrolífera Socar.
Lula escolheu um filho dileto dos quadros do Itamaraty que melhor conhece os meandros das COPs. Corrêa do Lago reúne as características adequadas para a missão: gentil, costuma utilizar do soft power brasileiro na mesa de negociação, sem abrir mão de falar duro quando necessário.
Os desafios serão muitos. Há grande expectativa em relação à COP da Amazônia, o lugar mais falado nas conferências e menos conhecido. Com os EUA fora do Acordo de Paris, a própria legitimidade dos debates climáticos está sob ameaça. E ainda há os temas intrínsecos às negociações: as novas metas de cada país para redução de emissões de gases do efeito estufa (as NDCs) e o duelo entre Norte x Sul não encerrado sobre o financiamento climático.
O sucesso ou fracasso de uma COP depende muito do país anfitrião e de seu presidente. Se a COP de Belém não for resolutiva, muitos lembrarão mais de Corrêa do Lago do que de Lula.