O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
Diante da polêmica provocada pela performance de Jesus usando uma tanga e dançando, ocorrida no domingo (26) durante o evento pré-carnaval do Bloco da Laje, a organização do coletivo afirma que, em nenhum momento, agiu com deboche.
Ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, a diretora artística do Bloco da Laje, Camila Falcão, explicou que na última saída do grupo, houve um recorte descontextualizado de uma cena que é realizada há mais de 10 anos. Ela explica que a ideia da cena é "tirar Jesus da cruz" e levá-lo aos braços do povo, como forma de aproximar a imagem religiosa do povo.
Ela também explicou que Jesus representa a pluralidade de expressões. Veja a declaração na íntegra de Camila Falcão:
— Nessa nossa última saída, teve um recorte descontextualizado de uma cena que realizamos no Bloco há mais de dez anos e gerou uma polêmica com uma década de atraso. E essa performance executamos a música "Pregadão", que aliás é gravada, que tem nas plataformas digitais de streaming, tem videoclipe. Vamos lançar outro álbum agora dia 30, um EP falando depois da chuva. E essa música do "Pregadão", ela foi composta a partir de uma citação de uma música, a música "Jesus", de Pedro Luís e outros compositores também, que foi eternizada na voz do Ney Matogrosso. E nessa música o Pedro Luís e a Parede nos convida a tirar Jesus da cruz. Então, na cena temos o ator de terno e gravata, aparentemente um homem comum que se despe e revela a sua identidade de Jesus. Não é um striptease, é a revelação da figura de Jesus, como conhecemos, como vemos dentro das igrejas. E ele é apresentado no microfone como um homem que tem amor, perdão, compaixão. E quando cantamos a música, Jesus é literalmente tirado da cruz e carregado nos braços do povo. E depois cantamos que Jesus é negro, que Jesus é mulher, que todas as pessoas podem se identificar como Cristo. A questão é: o quão ofensivo é tirar Jesus da cruz? Se vivemos nessa época em que essa postura de crucificação está tão presente. E a Winnie Bueno, que é uma grande ativista, ela fala que não é a intenção do coletivo vilipendiar a imagem de Jesus, muito pelo contrário, entendemos que Jesus representa a pluralidade de expressões, de ser, estar no mundo, podendo se manifestar como os povos oprimidos. A nossa manifestação artística pode até ser questionada, estamos dispostos a isso, mas a liberdade de expressão constitucionalmente nos dá baliza para expressar nossa arte conforme aquilo que acreditamos. Isso é um direito fundamental. E também lembrar aqui do trabalho do grupo, composto por artistas locais, incansáveis, oferecendo a cada ano apresentações em palcos, ruas, parques, evento para grande público. Então, estamos aí em quase 15 anos de trabalho, de qualidade, continuando crescendo. E essa cena fazemos há muitos anos, e vemos que temos a oportunidade de descer da cruz do ódio, do preconceito, da culpa. E brincar, e fazer com que Jesus brinque com o povo. Na realidade, nós nos identificamos muito mais com ele do que as pessoas imaginam. Em nenhum momento agimos com deboche. E é isso, o amor que o Bloco da Laje e deseja para todo mundo com respeito às crenças, cores, gêneros e diferenças, que constitui a identidade e a beleza do nosso país.
Na terça-feira (28), a coluna ouviu a vereadora Mariana Lescano (PP), que afirmou que "a fé cristã foi abalada". A parlamentar registrou duas denúncias, uma na Polícia Civil e uma no Ministério Público, e protocolou um projeto de lei que prevê multas, suspensão de futuros eventos e proibição de captar recursos públicos para quem desrespeitar símbolos religiosos.