Há um otimismo exagerado em relação à queda do ditador Bashar al-Assad.
Claro que o mundo é melhor com menos um tirano por aí, ainda mais do quilate sanguinário Assad. No entanto, a Síria está trocando um ditador por um grupo terrorista no poder.
O nível de confiança que se deve depositar no Hayat Tahir al-Sham e em Mohamed al-Golani deve ser, no mínimo, o mesmo que você entregaria ao Talibã. Tais quais os fundamentalistas que ora posam de libertadores de Damasco, com direito a estátuas no chão, os talibãs também prometeram moderação quando regressaram ao poder em 2021.
Três anos depois, o grupo transformou o Afeganistão em um país islâmico baseado na sharia (lei islâmica). uma série de restrições à educação, vestimenta e viagens das mulheres que foram constantemente introduzidas nos últimos três anos. Meninas com idade superior a 12 anos são impedidas de receber educação formal, as mulheres geralmente não têm permissão para viajar longas distâncias sem estar acompanhada de um homem e estão impedidas de frequentar academias e parques.
Nascido da costela da rede Al-Qaeda, de Osama bin Laden, o Hayat Tahir al-Sham não fica muito longe disso - no passado, cometeu atentados mortais, confiscou propriedades de minorias religiosas e instaurou uma espécie de "polícia da fé" para fiscalizar as roupas das mulheres.
Agora, a exemplo do Talibã, o Hayat estaria mais moderado - uma das promessas é de que irá respeitar as diferenças religiosas. Dá para acreditar? Só os próximos dias dirão.
O fiador do grupo sírio perante a comunidade internacional é Recep Tayyip Erdogan, presidente da Turquia. Em seu afã de se tornar protagonista do xadrez do Oriente Médio, armou o Hayat nos últimos anos menos para derrubar Assad e mais para se proteger contra os curdos, que desejam um Estado em parte da fronteira sírio-turca.
O problema é que a História ensina que o perigo de armar terroristas é que, um dia, elas podem se virar contra você. Os Estados Unidos que o digam.