Com quatro dias de novo governo, o primeiro ruído de comunicação, a partir da frase do ministro da Previdência, Carlos Lupi, revela o desafio que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá para controlar seus subordinados em um ministério integrado por representantes de uma ampla gama de ideologias e posturas divergentes. A oposição a Jair Bolsonaro amalgamou partidos diferentes na chamada Frente Ampla. Funcionou para levar Lula ao Planalto, mas tamanha diversidade política pode criar dificuldades no exercício do mandato.
Nos 37 ministérios, foram acomodados nove partidos: PT, PSB, PC do B, PDT, Psol, Rede, MDB, PSD e até o União Brasil, que tem o senador eleito pelo Paraná e algoz de Lula, o ex-juiz Sérgio Moro, em suas fileiras.
Na terça-feira (3), Lupi, do PDT, expressou o desejo de criar uma comissão com representante de sindicatos, empregados, aposentadorias e governo para discutir o que chamou de “antirreforma da Previdência”. O efeito no mercado foi imediato: aprofundou a queda da Bolsa e elevou o dólar.
Nesta quarta-feira (4), Lupi foi desautorizado por Lula, na pessoa do ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, que atuou como bombeiro antes que a crise aumentasse. Ele negou que o governo esteja elaborando propostas de revisão das reformas e reafirmou que, qualquer proposta, passará necessariamente pela Casa Civil.
É possível que o primeiro tópico de Lula na reunião do ministério, na sexta-feira (6), seja: não deixar escapar frases aleatórias, não combinadas com o presidente, com alto impacto nos humores da economia. Será, no entanto, difícil fechar o vestiário, para ficarmos em metáforas futebolísticas, as preferidas do presidente. Principalmente, diante da promessa de manter a transparência do governo e, ao mesmo tempo, respeitar opiniões por vezes individuais.