No campo amoroso, o usual da condição humana é andar pareado. Quase nunca estamos sozinhos e, caso estivermos, não seria por opção, e sim porque não conseguimos um par. Para alguns a condição avulsa é fonte de embaraços, como se equivalesse a ser alguém desinteressante.
Ignoram que a equação humana é mais complexa. Vejo pessoas que procuram ajuda profissional para perguntar: não quero casar nem namorar ninguém fixo, qual é o meu problema? Os chavões interpretativos de sempre os acompanham: acusam-se de serem eternos adolescentes que não querem amadurecer; ou então que seriam pessoas incapazes de fazer vínculos sólidos; ou ainda ser analfabetos emocionais que não seguram relação.
Porém, depois de despir-se da capa de preconceitos do consenso, eles finalmente se perguntam: e se o meu desejo atual for realmente ficar só? E se o que gosto é passear entre relacionamentos e aventuras erótico-amorosas e me aborrece profundamente o vínculo único. Por que deveria render-me ao clichê de andar a dois?
Geralmente essas pessoas já tiveram suas experiências de vida em casal e não se sentiram felizes. Pensaram que era a pessoa errada, mas depois, trocando mais de uma vez, deram-se conta que o sistema era errado para elas. Após perceber o que realmente querem, enfrentam um mar de animosidade. Ninguém os entende ou quer entender. O ideal romântico de conjugalidade não quer ser questionado e é ele que segue acusando os avulsos das mais variadas imaturidades e covardias.
Em defesa dos avulsos – que como não sou um, soa mais convincente – posso dizer que aqueles que conheço sabem amar, dedicar-se a alguém, e já deram provas disso. Não são misantropos, apenas não querem amar dessa forma. O fato de ser descompromissados com a vida a dois não quer dizer que o sejam em outras frentes. Alguns têm cicatrizes amorosas doídas, mas não necessariamente culpam a má experiência pela sua opção. Outros, ao contrário, tiveram bons relacionamentos e cresceram com eles.
Respeito principalmente os que não fazem proselitismo dessa condição, são os autênticos. Dizem que são assim e pronto, não acusam os outros de covardia ou adição amorosa, nem alardeiam ser melhores ou vanguarda de alguma coisa. Apenas querem levar uma vida voltada para outros interesses, sem que sua preocupação central seja amarrar uma relação. Talvez não esperem tanto – ou tudo – do amor e do sexo, por saberem que superestimamos seu potencial de trazer felicidade.
Sem muitos argumentos, o crescei e multiplicai-vos bíblico é evocado na forma: – mais tarde vais te arrepender de não teres tido filhos. Esses dias vi uma dessas pessoas contestar: – talvez, mas deve ser mais fácil lidar com isso do que com o arrependimento de tê-los.