O Athletico PR é a referência de todos os não endinheirados que pretendem chegar à final da Libertadores da América. Sua condição de clube grande é mais recente do que a dos gigantes tradicionais. O clube de Curitiba foi avançando sobre o patamar anterior desde que construiu um novo estádio. Chegou ao título brasileiro em 2001, foi vice da Libertadores em 2005, emendou mais recentemente Sul-Americana e Copa do Brasil com Tiago Nunes e voltou a ganhar a Sul-Americana no ano passado.
Em 2022, decidiu a Libertadores com o Flamengo e perdeu no detalhe de um defensor que agiu tresloucadamente, foi expulso e pôs abaixo a estratégia que Luiz Felipe utilizava com sucesso para amordaçar o adversário de mais qualidade. Ficou claro para todos os que pretendem chegar à final da Libertadores que é possível, sim, com boa gestão, contratações precisas e pontuais e aproveitamento da base.
É onde entra o Inter, já com vaga direta na fase de grupos da Libertadores 2023. O presidente será o mesmo, o treinador tem contrato renovado e a base do time conta com seis a sete titulares confiáveis. A premissa está atendida, o Inter não fará aventuras na casamata no ano que vem. Há alguns investimentos cujo valor é conhecido pelo tesoureiro, caso da contratação em definitivo de Wanderson. Existem pendências que vão exigir do dirigente astúcia e capacidade de negociação, como na Operação Vitão.
Contratos de jogadores veteranos e competentes terminam no fim do ano, Mano Menezes certamente gostaria de contar com Gabriel Mercado e Rodrigo Moledo. Tão evidentes quanto estas situações é a urgência de encontrar um artilheiro para a próxima temporada. Veja que não escrevo centroavante para não tornar a tarefa mais espinhosa. Atacante que faça gol já basta. Uma candidatura à Libertadores não pode prescindir de jogadores decisivos. Não é uma exigência que se deva ter, por exemplo, em relação a Alemão. Contratação de ótimo custo/benefício, com absoluta certeza, mas nem por isso com poderes mágicos de transformar em protagonista um jogador recém descoberto e com quesitos importantes a serem desenvolvidos como centroavante.
Se o Inter tiver dinheiro para uma contratação só, que seja a de fazedor de gol. No mundo ideal, haveria a de primeiro volante, já que Gabriel retorna além do meio do ano que vem, de mais um articulador e de outro segundo volante. Quatro novos jogadores com qualidade indiscutível para a titularidade fariam do Inter um candidato mais forte na Libertadores da América. Talvez não haja bala para tanto. O CAPA, centro de avaliação e prospecção de atletas, acertou bastante em 2022 e estabeleceu para si mesmo um novo padrão de referência. Vitão, De Pena, Wanderson, Gabriel e Alemão foram acertos que se podem atribuir ao departamento técnico que mede que jogadores podem ser encontrados no mercado a baixo custo e boa capacidade de resposta. O Inter terá que acertar na mesma proporção ou até mais para dar o salto.
Não bastassem as questões em aberto quanto aos novos e imprescindíveis reforços, há Edenílson e seu futuro. Seu desempenho geral nesta temporada foi decepcionante diante do que ele fez em anos anteriores. A relação com a torcida chegou no nível máximo do estresse, depois ganhou contornos mais cordiais, mas de forma alguma voltou a ser de carinho e confiança. Mano Menezes se esforça em melhorar o nível de entrega do seu meio-campista. Porém, não está acontecendo a pleno. Edenílson poderia ser, no mundo bonito da redenção e da volta por cima, um reforço vindo do próprio elenco. Se não acontecer, ganha ares de moeda de troca. Em outro clube, dá para projetar sem sobressalto que Edenílson voltará a jogar bom futebol. Se deste clube vier um jogador para a titularidade colorada, a operação ganha-ganha se estabelece e pronto, vida que segue. Vem dos anos 1980 um dos negócios mais bem-sucedidos envolvendo troca de grandes jogadores. Não foi no Inter e sim no rival. O Grêmio cedeu o ponta-esquerda Éder para o Atlético MG, que liberou para o Grêmio o meia-atacante Paulo Isidoro.
O negócio foi tão espetacular que ambos estavam na Seleção em 1982 com Telê Santana. Com a dificuldade financeira reconhecida pelos próprios dirigentes colorados para trazer jogador indiscutível, a criatividade passa a ter valor de dólar. Antes tarde do que nunca, Mano Menezes precisará ser mais ousado e aproveitar de fato os destaques da base. Lucas Ramos e Estevão são os primeiros lembrados na amostragem deste ano, mas deve haver mais gente. Não é possível que um clube invista tanto e tenha tantos bons resultados na base sem conseguir revelar para o profissional de quatro a cinco candidatos a aproveitamento regular no profissional. O Inter abrirá 2023 inspirando sonhos em sua torcida. Começa pelo favoritismo no Gauchão, continua pela candidatura na Copa do Brasil e desemboca na perseguição ao tri da Libertadores. O Athletico PR acaba de mostrar que dá.