O jeito professoral de Tite ao falar com a imprensa é uma de suas marcas e foi importante nos momentos mais tensos de sua carreira para aliviar tensões. Mesmo para quem o conhece há muito tempo, pode ser difícil perceber o que é programado e o que é espontâneo no melhor treinador do Brasil.
Na coletiva pré-jogo, Tite me pareceu — na pretensão de quem viu de perto a origem do seu sucesso no Caxias do ano 2000 — especialmente à vontade antes de enfrentar a Sérvia. Tite está na paz. Domina o processo de se comunicar como técnico da Seleção com sabedoria. Entende, de fato, a natureza das perguntas da imprensa e não parte do princípio de que elas contenham armadilhas mal-intencionadas.
Foi com sorriso no rosto que não confirmou Vinícius Júnior, pergunta obviamente mais repetida na entrevista. Chegou a dizer que, por ele, daria o time ali mesmo. Deixou a entender que foi convencido a não antecipar a escalação da equipe. Reiterou várias vezes o contexto de poder fazer cinco trocas, o ar seco de Doha e a proximidade entre as datas dos jogos. Deu pistas, respondeu às perguntas dizendo o nome dos repórteres, desfrutou o momento em que de novo comandará a Seleção numa Copa. Não faltaram algumas respostas mais burocráticas e acionadas no automático, mas foram poucas.
Para estar escalando um time tão ofensivo, é certo que Tite fez um pacto com seus talentosos do meio para frente. Tanta ousadia terá como contrapartida o sacrifício dos meias e atacantes quando não tiverem a bola. Será preciso cortar linha de passe, dificultar a saída de bola dos defensores adversários e entender que às vezes a bola ficará com o Brasil menos do que os brasileiros gostariam. Sem partir desta premissa, o risco de o time ofensivo virar time vulnerável quintuplica. Contra uma Sérvia dotada de excelente armador, Tadic, e dois goleadores de forte compleição física, Tite apostará na máxima de que nada é mais eficiente em futebol do que juntar e adaptar os melhores entre os 11.
Vou torcer pela vitória do Brasil por ser brasileiro, óbvio ululante, mas também por gostar da ideia que está fundamentando as escolhas do gaúcho que se tornou universal pela competência em conquistar títulos.