Do alto, areia e areia. De repente, a contemporaneidade aparece na forma ousada da arquitetura catari. É assim que o Catar recebe o mundo a partir deste final de semana — a delegação da RBS chegou na sexta-feira (18). Agora, a expectativa é de criança voltando às aulas. Credenciamento, hospedagem e nenhuma vontade de dormir nas primeiras horas no primeiro país do Oriente Médio a receber o maior evento do futebol. A jornada diária e mais dura começou no sábado (19), véspera de a bola rolar, e não parará mais. Como tem que ser para quem tem no ofício um sacerdócio.
Uma viagem tão longa abre tempo e espaço para o jornalista pensar na grandeza da competição, o quanto quem o promove pretende se valer do esporte para objetivos estratégicos geopolíticos, coisas de fora do campo. A aeromoça asiática fala sob a máscara num inglês ininteligível quais são as opções do cardápio. O sono é entrecortado, o filme disponível não chama a atenção e corpo de 1m88cm não encontra mais posição na poltrona. Queixa? Nada! São contratempos administráveis a caminho da minha sexta Copa, ainda mais ao lado de colegas que tão especiais.
Da parte da equipe da RBS, imagine amigos juntos se ajudando numa missão gigantesca de determinar olhares variados sobre o mesmo evento. Do Luciano Potter ao Rodrigo Adams no entretenimento, passando pela Alice, Kelly e Lucianinho na missão de contar histórias do esporte. Só para citar alguns. Vai sobrar qualidade em todas as mídias da RBS. Já demos risada e falamos sério.
Neste domingo (20), a festa de abertura foi bonita, a tecnologia fez a ponte com a ancestralidade, houve luzes, efeitos especiais e um ator hollywoodiano, Morgan Freeman, a conduzir a festa com voz inconfundível. Em campo, o Catar mostrou enorme fragilidade, o Equador teve personalidade, venceu por 2 a 0, consagrou o primeiro personagem da Copa, Valência, que fez três gols para que dois valessem e depois se machucou sozinho. Virou dúvida contra Holanda. Mas abriu a Copa com bola na rede.
Não projeto qualquer novidade nesta Copa pós-auge da pandemia. Pode ser a Copa da excelência. Isto é, vai ganhar o que cumprir melhor os quesitos já conhecidos e desenvolvidos do jogo.
Candidatas ao título
Nesta segunda-feira (21), Inglaterra e Holanda estreiam, respectivamente, contra Irã e Senegal. As seleções favoritas destes jogos são candidatas ao título e fazem campanhas de renovação em seus elencos. Os ingleses fora campeões europeus e mundiais recentes na base. Os holandeses já tiveram gerações mais talentosas, estão jogando um futebol mais pragmático do que em participações anteriores.
A terceira partida desta segunda-feira traz o confronto de País de Gales, exército de um homem só na figura de Gareth Bale, contra os Estados Unidos, cujos passos na evolução futebol têm sido mais vagarosos do que seu histórico de competitividade em outros esportes. Não será ainda desta vez que os norte-americanos vão se apresentar como candidatos reais ao título mundial no masculino como sempre são no feminino.
Baixas francesas
Benzema fora da Copa é mais do que um golpe para a França. A Copa perde muito de sua graça sem o centroavante espetacular do Real Madrid. A vida, às vezes, brinca com o ser humano. Na mesma temporada em que ganha prêmios individuais, o artilheiro sai da Copa já em território da Copa. Cruel.
A atual campeã do mundo já havia perdido dois meio-campistas titulares e o treinador não conquistou unanimidade nem entre os compatriotas desde 2018, o ano do título em Moscou. A ausência de Kanté e Pogba seria compensada, embora se trate de uma dupla de sustentação no meio-campo, por Benzema. A França perde equilíbrio entre os setores e poder de fogo no ataque. Agora, resta aos franceses acreditar em Mbappé, mais maduro e completo do que quatro anos atrás.
Tópico Brasil
Deixei para o fim da primeira coluna um tópico que vai sinalizar o texto principal da próxima: Tite vive um só desafio para formatar o time da estreia. Embora tenha legitimidade para fazer escolhas, não seria bom para ele e para a Seleção chamar para si uma discussão desnecessária. A titularidade de Vinícius Júnior deveria ser óbvia. Parece que não é.
Vamos falar muito sobre isso ainda ao longo dos próximos dias.