O tricampeão brasileiro não começa o campeonato candidato ao tetra. Pelo contrário; enfrenta o Atlético-MG na primeira rodada no Mineirão como um dos dois gigantes da vez candidatos ao rebaixamento. O Santos é o outro. Cacique Medina não avança no seu trabalho e, pior, parece involuir cada vez que tem tempo para treinar seus jogadores.
Aconteceu três vezes na temporada 2022, a última delas antecedendo esta atuação triste contra o 9 de Octubre na estreia da Sul-Americana. O brete em que se colocou a direção do Inter não tem saída fácil. Deu duas semanas de trabalho para o treinador que manteve supostamente por convicção. A resposta foi péssima, o período de treinos foi jogado no lixo e um eventual substituto de Medina não terá semana livre para trabalhar. Logo, trocar Medina seria de alto risco, como de alto risco é mantê-lo porque, afinal, quanto mais ele dá treinos ao grupo, pior o time joga seja quem for o adversário.
O Brasileirão tem 38 rodadas e a ambição número um do Inter precisa ser, por questão de sobrevivência, chegar aos 45 pontos que costumam livrar o gigante da queda. Não há bala para reforços de ponta. Quem chega vem de lesão, custa pouco justamente porque não vinha de boas atuações e sim de estaleiro. Nome por nome, Wanderson, De Pena ou Alan Patrick, caso se confirme, têm contribuição a dar numa régua mais elevada de qualidade. Porém, quanto tempo levará cada um, em situações diferentes, para alcançar seu melhor rendimento?
A base falada como fonte de votos na campanha de Barcellos não é aproveitada na prática e o mercado vai abastecendo jogadores médios ao Inter ou ficam os médios que já estavam no Beira-Rio. Cuesta foi para o banco, Edenilson tem feito atuações que poderiam tê-lo conduzido para o mesmo destino, mas tem currículo e se mantém, embora seu treinador cometa a maldade de escalá-lo fora do seu lugar a cada jogo.
A paciência da torcida, na amostragem temerária das redes sociais, ficou na esteira e o ressentimento cresce, o que pode causar uma desconexão perigosíssima entre time e apaixonados. Desfeita a liga entre time e torcida, fica difícil retomá-la dentro da competição e aí se desenha a cartilha da queda. Prematuro falar em descenso? Que bom que fosse. Na verdade, é profilático.
Se o Inter não tomar providências para o Brasileirão, sua chance de cair aumenta gravemente. Como grave é a situação do Santos, que quase caiu no Paulistão. Até terça-feira que vem, o Inter pode contratar. Com que dinheiro? Com que convicção? Em que prateleira?
Para subir na Série B
Se a campanha colorada é de escapar do pior, a do Grêmio é de retomada ao seu lugar e parece muito mais razoável de ter sucesso mesmo que novos reforços não cheguem para Roger Machado. Com o elenco campeão gaúcho, não consigo ver o Grêmio ficando atrás de outros quatro times da Segunda Divisão, ainda que se considere a força de Cruzeiro e Vasco, que estão estendendo temporada na Série B.
Meio caminho para a formação de um time competente o suficiente para subir já está trilhado. O treinador incutiu nos seus jogadores a aceitação do sacrifício de jogar sem a bola em tarefa defensiva para que o filé venha depois, a retomada da bola para o ataque e o gol. Suas melhores atuações, à exceção da goleada sobre o São Luiz de Ijuí, vieram no modo reativo, o que convenceu Roger de que esta é a premissa da qual partir neste sábado em Campinas contra a Ponte Preta. Porém, a palavra mágica equilíbrio vai se impor logo adiante quando o Grêmio enfrentar Tombense e afins na Arena.
Por mais que você explane a Lucas Silva a necessidade atuar como meia na sopa dos numerozinhos 4-1-4-1, sem aptidão vira conjunto vazio. Roger Machado, com a autoridade de quem foi pentacampeão gaúcho pouco depois da chegada, não esconde nas entrevistas que o modelo é de emergência e alterá-lo dependerá do tanto de qualidade que seja agregada ao elenco.
Se Gabriel Silva tiver êxito no processo de fortalecimento muscular para aguentar volante truculento, ele será a chave que virará o Grêmio de reação de Lucas Silva para o propositivo que teria então a figura talentosa do jovem meia. Benitez, que veio do Vasco e se destacou antes no São Paulo, não parece contar para Roger na função de destravar o time quando jogar em casa. Pedro Lucas, mesmo seis quilos mais forte em massa muscular, também não ficará para a missão. Jean Pyerre está indo para o Avaí.
Ou bem Gabriel Silva responde para o Grêmio jogar mais próximo às melhores ideias de Roger, ou a direção terá de ir ao mercado mais uma vez em busca deste jogador que, por raro, costuma ser muito caro. A torcida sinaliza apoio a mais uma travessia que o Grêmio fará para retomar seu lugar de origem. Um título sempre abre sorrisos, mesmo que a melancolia do rebaixamento de 2021 esteja logo abaixo da pele machucando gremistas em geral.
Os já citados Cruzeiro e Vasco da Gama inauguraram outro tempo dos gigantes que caem. Até a segunda temporada cruzeirense na B, nunca tinha acontecido de uma bandeira pesada não voltar à Primeira Divisão logo depois da queda. O Vasco da Gama também se repete em terra inóspita.
Será cada vez mais comum ver a Segunda Divisão recheada de escudos poderosos, bem como emergentes bem geridos frequentando a faixa nobre do futebol brasileiro. O Grêmio vai jogar menos pelo bi da Série B e mais por presença entre os quatro que sobem. E está certo que seja assim.