Ainda falta o grande público no Colosso da Lagoa, combinemos. Deveria ter sido na virada épica contra o Brasil-Pel, mas a chuva atrapalhou e o público de Erechim, sei lá, talvez tivesse o temor de que o Ypiranga ficaria pelo caminho como tem ficado tão perto do objetivo de subir para a Série B do Brasileirão sem conseguir. Agora não tem mais desculpa. O time de Luizinho Vieira joga o melhor futebol do Rio Grande do Sul, mesmo que não tenha os melhores jogadores. O investimento que o clube faz não tem termo de comparação com o do gigante que estará em Erechim para defender seu título de tetracampeão gaúcho.
A final do Gauchão tem Série B x Série C, ambos fora dos seus devidos lugares. O Grêmio é da Série A, seu terceiro rebaixamento foi uma soma de soberba com incompetência que não se repetirá em 2022. O Ypiranga, pelo poder econômico da região, já deveria ser da Segunda Divisão do Brasil, pode acontecer neste ano. O fato é que o desafiante está leve, nada pesa às suas costas, não há por que tremer. O Ypiranga está na decisão do campeonato pela primeira vez, não tem a menor responsabilidade de bater o Grêmio. Logo, não será pelo emocional que o anfitrião deste sábado se atrapalhará.
O prêmio, imagino, pode ser aumentado na boca do túnel pelos dirigentes do Ypiranga. Os jogadores estarão mostrando — ao vivo, na RBS TV — seus currículos para novos e maiores voos ou para a permanência no clube. Há os que já têm destino, como Erick, que vai jogar a B pelo Vasco da Gama. Não faltam candidatos à decolagem na carreira. A dupla de volantes, por exemplo, Lorran e Falcão, joga para frente, acerta passe, marca bem e chuta em gol. Teriam espaço em grupos de clubes da Série B e, por que não, nos da Série A também.
Luizinho Vieira é figura importante neste contexto positivo do Ypiranga. Chegou para substituir Júnior Rocha, cujo excelente trabalho chamou atenção do mercado e lá se foi ele ganhar mais dinheiro noutro lugar. Em pouquíssimo tempo, o novo técnico deu feições à sua equipe. O sucesso do trabalho de Luizinho Vieira relativiza esta história um tanto confortável de que é preciso tempo para um treinador fazer uma equipe jogar bem. Como premissa, não discuto. No entanto, não é cláusula pétrea. Dá para queimar etapas, sim.
No caso de Luizinho Vieira, contou a seu favor o fato de que o Ypiranga não tem uma torcida reconhecidamente fanática que pudesse pressionar no caso de maus resultados. Ainda está em construção este processo coletivo de adotar o clube, ir ao estádio, consumir seus produtos, acompanhar o noticiário, ir às redes sociais falar do time do coração. Então, Luizinho pôde trabalhar com tranquilidade, o que não bastaria.
A defesa joga alto e colada ao meio-campo que, por sua vez, abastece e às vezes se mistura ao ataque. Na sopa dos números, a dupla de volantes sustenta a bom passe o trabalho dos meias-atacantes e do meia centralizado. Hugo Almeida tomou a titularidade de Rodrigo, fez gol na classificação sobre o Brasil. Luiz Felipe, habilidoso e central, machucou-se na reta final do campeonato e não tomou a nova titularidade de Marcelinho. John Lennon, lateral-direito de origem, foi oficializado por Luizinho Vieira como homem do meio para a frente e deve substituir Matheusinho, suspenso. Partindo do princípio de que não vai tremer porque já alcançou feito histórico, o Ypiranga pode cercar o Grêmio no próprio campo do visitante e, marcando lá em cima, dificultar a saída de bola.
Não se escandalizem, gremistas em geral, se virem Roger Machado adotando modelo parecido com o do 3 a 0 sobre o Inter no Beira-Rio. O Ypiranga tem menos margem e viverá uma circunstância especial sem Luizinho Vieira à beira do campo. O time que liderou a fase classificatória passou no primeiro teste de jogar sob pressão para reverter a vantagem do Brasil. Conseguiu com mérito, atrapalhou-se com a expulsão de um dos seus destaques e sofreu um pênalti que Édson impediu ser o da angústia da decisão por penalidades máximas. Ao ficar com nove na linha, o Ypiranga deixou claro que não sabe jogar para só se defender e quase sorteou a classificação à decisão. Antes, 10 contra 11, poderia ter feito mais do que três gols. Aliás, esta é a média de gols do Ypiranga jogando em casa. Só o São Luiz levou menos do que três na derrota por 2 a 1.
É passada a hora de a torcida encher o Colosso e neste sábado não fará isso sozinha. A enorme torcida gremista no norte do Estado vai tomar boa parte do estádio. A festa será linda, há previsão de bom tempo e temperatura outonal. A Gaúcha faz uma supercobertura no sábado inteiro. O Globo Esporte será apresentado pela Alice do estádio e estarei com ela no palco da decisão. A RBS TV fará uma transmissão do tamanho do evento, o Gauchão merece este desfecho tão bonito seja lá o campeão que se afirme ao final dos dois jogos.
Pode-se discutir sempre se os Estaduais precisam ser revisados e encurtados. No entanto, não tenho bons olhos para sua eliminação do calendário. O campeonato gaúcho emprega, diverte, emociona. Vou trabalhar, me divertir e me emocionar neste sábado na volta ao Interior onde tanto gosto de estar. O sorriso a cada foto que me for solicitada não será congelado e protocolar. Terá, sim, a mais absoluta sinceridade de quem vive do que gosta e é grato por isso.