Roger Machado já definiu o time quando você lê esta coluna. Pode ser que repita o meio-campo marcador e criativo do sábado (19) passado com Bitello na dele e Gabriel Silva na dele. Depois de muito tempo e tristeza, a torcida presente à Arena abriu sorrisos, comemorou gols e grande atuação, foi para casa pensando que valia abrir o vinho ou a cerveja porque, afinal, estava redescoberto o prazer de ver bom futebol.
Escolha, gremista, o tamanho do desconto por ser o São Luiz, mas não esqueça que o Grêmio melhorou comparado ao Grêmio, não ao oponente. Durante a semana, porém, cogitou-se a saída do Gabriel Silva para que Thiago Santos volte ao time sem substituir volante e sim se somar aos dois na ideia equivocada de que volantes podem ser meia por princípio. Não podem, a menos que tenham aptidão. É preciso que o volante adiantado a meia consiga jogar recebendo bola de lado ou de costas. Se não souber, o volante que parecia tão bom apoiador antes não conseguirá jogar porque não terá o campo de frente.
Roger Machado pode marcar o Gre-Nal pela ousadia de repetir o que deu certo descontando, sim, ser o São Luiz. Campaz está apto, Gabriel Silva deu assistência para gol, o que não o autorizou a ser um turista em campo na hora de marcar quem estivesse com a bola do outro lado. Bitello foi o segundo volante que avançou sobre o campo do adversário.
Nicolas se projeta à frente com cruzamento de ponta-esquerda. O Inter, neste caso, teria que se preocupar com o índice de criação alcançado pela qualidade de quem atuou. Se o modelo gremista retroceder a três volantes, a preocupação colorada diminui. Está nas mãos de Roger fazer deste um Gre-Nal diferente dos outros em que o medo, a cautela, a prudência e todos os eufemismos para pavor falaram mais alto.
Necessidade de vitória
O Inter, em casa, está mais necessitado da vitória porque tem jogado quase nada e os resultados não são melhores. Ninguém de vermelho imaginava que o time criaria para si mesmo uma turbulência tamanha por perder para o São José. Foi a segunda derrota no Gauchão tomando três gols e, combinemos, volante não faltava nem numa nem outra.
Alexander Medina não tem as peças ideais para seu modelo, certo que não, mas com o que tem pode formar um time de boa qualidade e capaz de atacar o Grêmio em busca de uma guinada em sua trajetória. Um time onde estivessem Edenilson, Taison, Mauricio, David e Wesley Moraes, o melhor resumo da qualidade disponível no elenco colorado. Cacique Medina veio do Talleres, lá tinha os elementos que não lhe deram aqui para jogar do seu jeito, o jeito pelo qual foi contratado. Está embretado porque já levou luz alta em entrevista de dirigente que não atendeu às suas demandas. Já vi o filme, resultado final foi degola. Para ter outro destino, Medina terá que se virar com o que tem e errar menos. Menos do que isso, muda o status da turbulência para crise.
Em 57 anos de vida, já vi clássicos espetaculares e outros, medíocres. Quando o medo imperou e ambos fechavam por um empate que não lhes causava aflição, foram jogos menores do que a altivez do gaúcho. Não compreendo como, com o orgulho que temos do nosso jeito de ser, tenhamos o Gre-Nal como o jogo do medo, o jogo da redução de danos. Em compensação, quando um ou ambos os times estavam escalados em busca da vitória, vi partidas inesquecíveis com vitória de lado a lado ou empates onde as duas equipes saíram aplaudidas pela coragem e entrega. Este de sábado poderia ou poderá ser do time dos grandes clássicos como poderá, dependendo do que decidam os dois treinadores, mais um para o mar da mediocridade que passa o pano em ambos.
Em 1979, Orlando Fantoni escalou Jurandir, um esforçado meio-campista vindo do Caxias, para perseguir Falcão por onde fosse. Estrategicamente, jogou pelo empate que lhe servia no Beira-Rio. O clássico é lembrado até hoje por esta tirada. Havia Paulo César Caju de 10 no Grêmio, mas Fantoni foi reativo. O Grêmio também é lembrado por golear por 4 a 0 o Inter em 1977 com Telê Santana de treinador.
Não lembro de clássicos mediocres
O Inter em 1981 foi campeão gaúcho no Olímpico em cima do Grêmio recém campeão brasileiro. Cláudio Duarte jogou reativamente, era o que poderia fazer à época. Mas quem veste vermelho lembra com sorriso no rosto de um 5 a 2 sobre o rival na casa dele. Danrlei em 2003 manteve um 0 a 0 no Olímpico com dez milagres. Em 1978, houve um 2 a 2 alucinante no Beira-Rio.
Vai faltar linha para coluna para lembrar tantos Gre-Nais espetaculares. Mas também faltariam linhas para lembrar os clássicos medíocres. A diferença é esta: de Gre-Nal medíocre, eu não lembro. Vira tudo uma massa cinzenta, insossa, inodora, irrelevante. Depois destes clássicos, tudo ficou como antes. Não houve sofrimento ou consequência. Cada Gre-Nal desses representou uma dose cavalar de morfina para ambos. Não houve dor. Nem nada. Só o nada.
Dias depois do Gre-Nal deste sábado, Grêmio e Inter jogarão partida única e decisiva pela Copa do Brasil. Jogam por dois de três resultados contra adversários claramente inferiores. No entanto, para enfrentar Mirassol e Globo não seria preciso depreciar o Gre-Nal e nenhum dos dois fará esta sandice.
O clássico está posto, marcado, tem que jogar. Pode ser jogado com o medo que torna inexistente e medíocre sua consequência. Ou pode ser lembrado como um Gre-Nal onde um ou os dois treinadores ousaram, encararam o jogo com o tamanho que ele tem com a altivez que ele exige. Saberemos por volta de 21h.