A primeira amostragem do Inter de Cacique Medina teve bons momentos e outros preocupantes em Caxias do Sul contra o Juventude. Se é assim em estreia com qualquer treinador, imagine quando o técnico vem de outro país, fala outra língua e estreia numa competição da qual mal ouvia falar. A realidade da Argentina, onde trabalhava, ou do Uruguai, onde nasceu, não contempla campeonatos regionais. A resposta de Medina foi tão boa quanto possível.
Desassombrado, fez sair Caio Vidal, que tinha entrado 25 minutos antes já no segundo tempo, para colocar mais um zagueiro de boa bola aérea. Não foi para queimar o menino, apenas necessidade. Antes, no intervalo, não trocou peça nenhuma para ajeitar uma equipe que foi dominada no primeiro tempo. Arrumou conversando e reposicionando. Não fosse Daniel, Cacique Medina teria que dizer palavras no intervalo que ajudassem o time a empatar a partida. É nesta hora que a importância do goleiro bom salta aos olhos. Ele serve para evitar o pior quando o cenário está ruim e para garantir o melhor quando o time faz gol.
Alguns itens específicos chamaram positivamente atenção na primeira amostra de Medina. A ideia de ter meias de passe e aproximação enquanto não chegam velocistas dribladores nos lados restou bem-sucedida quando a equipe foi corrigida no intervalo. Medina, por preservação, poderia começar o torneio jogando fora de casa com uma formação mais conservadora. Nada. Veio para mudar e correr riscos, decidiu arriscar logo de saída.
Outro ato corajoso do treinador foi usar linha de impedimento com tão pouco tempo de treino. Para deixar o adversário impedido, é preciso treino, rotina, repetição, palavra de ordem, sincronia, não dá para dispensar nenhum destes quesitos. Deu certo às vezes, bastaria uma errada para tomar o gol, Daniel evitou.
Talentos da base
Não se viu ainda a intensidade pretendida, o que é explicável pelo pouco tempo de trabalho desde a chegada do comandante. Neste sábado (29), embora tenham-se passado só três dias, dá para projetar que o Inter vai se aproximar mais da ideia original do Medina. O jogo é no Beira-Rio, o adversário acaba de subir da Série B estadual, o contexto favorece que o Inter ocupe o campo do visitante e não saia de lá nem após fazer o primeiro gol. Mudar conceito é seguir buscando o gol depois do 1 a 0.
A saída de três, que com Coudet e Ramírez foi factoide na maior parte das vezes porque representava uma troca inútil de passes na defesa até o balão final, se mantém com Medina. Edenilson, de volta à segunda função, tem muito a contribuir para uma saída de bola mais fluida do que a praticada com Dourado e Lindoso. Já sabendo que Yuri Alberto fica só até junho, Cacique Medina vai preparar Wesley Moraes para ser a reposição certa.
Tenho informação de que Gustavo Maia receberá mais chances, além da entrada natural de David no corredor ofensivo esquerdo. A grande novidade que desafia o treinador trazido para fazer diferente é o aproveitamento ou não dos talentos da base. Por óbvio, Medina não tinha visto antes Estevão, Alisson ou Tauan, está vendo de perto agora.
Ele sabe que os garotos foram destaque do sub-20 vitorioso de 2021. Daí a torná-los candidato a titulares ou, no mínimo, prioridades no banco vai enorme distância. O currículo de Cacique Medina sustenta a esperança de que ele não vai temer dar chance a quem merecer chance. A velocidade do processo, porém, só será conhecida à medida em que o Gauchão avançar e dependerá também dos resultados.
Efeito positivo
Do que Cacique Medina veio fazer e o que o time produziu na estreia, talvez não se tenha alcançado 20% no Alfredo Jaconi. A levada tática do uruguaio não chega a ser complexa ou pretensiosa como tentou Miguel Angel Ramírez, mas é nova o suficiente para demandar algum tempo entre o começo e o ideal. A direção colorada parece disposta a entregar as peças necessárias para tanta mudança.
O dinheiro que entra por Yuri Alberto vai ajudar, aproveitar a base se impõe, mas resultados como o da estreia contra o Juventude podem sustentar um trabalho com tantas intenções de mudança. Comparado aos técnicos estrangeiros que o Inter trouxe antes, Medina dá a impressão de estar preparado. O teste maior quanto à missão de montar um time propositivo não vai ser o Gauchão. Ser finalista, no entanto, é inegociável. Se vier a faixa no peito, a confiança cresce numa proporção que a torcida colorada não vê há muito tempo, uma vez que em 2016 o que sucedeu o Gauchão foi o rebaixamento.
O cenário agora é oposto. O Gauchão não baliza a competitividade do campeão para as competições maiores. Porém, ter a confiança em dia potencializa as qualidades que já apareceram e autoriza ousadias maiores. Em especial, perdoe quem me lê a insistência, bancar a premissa de ter jogadores da base relevantes para o time principal. Não se trata de encher o elenco de jovens feitos em casa.
Isso, o Inter já fez no ano passado. Dar a eles o devido reconhecimento pela qualidade que têm, isto sim fará diferença. Da primeira e rápida amostragem, creio que Cacique Medina está apto a dar o passo. Acontecendo, o efeito positivo será cumulativo: resultado de campo que leva a cofre recheado.