A memória mais engraçada que me vem à mente da minha primeira cobertura in loco de Copa do Mundo é da viagem de ida para Seul, nosso primeiro destino na primeira Copa jogada em dois países. A viagem somou 30 horas. Eu já tinha lido tudo que levara para tão longa viagem e fui vencido pelo sono. Ajeitei o corpo tanto quanto dava para ajeitar e dormi.
Um sono pesado, mas curto, não mais de duas horas. Quando acordei, estava testa a testa com meu amigo e parceiro de fileira Antônio Carlos Macedo.
Despertamos ambos ao mesmo tempo, assustados com aquele contato tão íntimo, meigo e inesperado em pleno voo para a Coreia do Sul.
Olhamos ambos os relógios e ainda faltavam mais de 10 horas para a chegada. Tudo valeu a pena, é claro. Meu trabalho na TVCOM era mostrar o que acontecia com brasileiros em terras tão distantes e como lidavam com culturas tão diferentes.
Lembro de testemunhar o Gaúcho da Copa, já falecido, e sua trupe parando um carro de policiais sul-coreanos, pulando e cantando em torno deles e, ousadia máxima, tirando o boné de um deles e colocando na própria cabeça.
Na véspera da decisão, a imagem que fechou o Jornal Nacional foi produzida por mim e captada pelo excelente cinegrafista Júlio César Aguiar. No programa que eu apresentava, pedi que o Gaúcho da Copa fizesse de conta que ia dormir abraçado à réplica da taça que ele carregava para todo lado.
A imagem ficou ótima, convincente e divertida. O Brasil foi pentacampeão conduzido por um treinador gaúcho. Outro gaúcho, Ronaldinho, teve grande performance, meu trabalho funcionou e desde então, para meu prazer e orgulho, estive em todas as coberturas de Copa do Mundo do Grupo RBS.
Se abri o tópico escrevendo sobre a memória mais divertida do início da jornada, fecho com outra memória que mantém vivas as cores da cena em minha cabeça. Estávamos hospedados no hotel em que ficou a Seleção em Yokohama.
Depois da vitória sobre a Alemanha, cheguei antes da delegação de volta ao hotel, pude ver a entrada triunfal de pandeiro e tantã nas mãos de Ronaldinho e Roberto Carlos. Mais tarde, houve uma festa no bar do hotel com muito samba.
No pequeno palco, entre os instrumentistas estava Galvão Bueno. Tocava animadamente um tamborim e me viu olhando para suas mãos na batucada. Generoso, me abriu um sorriso, me chamou e me entregou o tamborim para tocar. Foi o que fiz.