Não é raro você ler por aqui que as coisas que acontecem no futebol acontecem na vida, analogia simples de comportamento reproduzido lá e cá porque, afinal, o futebol é parte da vida de quem gosta de futebol. Veja o caso recente de Thaciano no Grêmio. O jogo da quarta-feira passada era cumprimento de carnê para o visitante, valia classificação para o Pelotas, que suou o que pôde e só conseguiu perder por 2 a 0 para os reservas do gigante. De última hora, antes da partida, soube-se que Thaciano estava escalado de primeiro volante. Vinha de lesão, podia se preservar para não correr risco de parar de novo. Não foi esta sua decisão. Thaciano tratou o jogo na Boca do Lobo como prato de comida para faminto. Ao final, restava como a grande notícia da vitória do seu time.
Além do lindo gol que marcou, concluiu outras duas vezes, passou infinitas vezes da linha da bola invertendo com Matheus Henrique, deu bote, roubou bola, como no início do segundo gol, fez área a área. O tal volante moderno, enfim. É preciso descontar a fragilidade técnica do adversário, decida o percentual de desconto. No entanto, seria injusto desconsiderar o que Thaciano rendeu só porque foi contra um time menor. Renato Portaluppi nem foi a Pelotas, viu o jogo pela televisão e certamente ficou curioso por novas amostragens de Thaciano na primeira posição de meio.
É um lugar sem dono definitivo em 2019. Michel tenta retomar o próprio padrão, cogita-se Maicon recuado para dar vaga a Matheus Henrique de segundo, Rômulo se atrasa em aproveitar as chances que já lhe foram dadas. Neste contexto, Thaciano foi estrategicamente perfeito ao ver Grêmio x Pelotas, última rodada da fase classificatória, como seu enorme e fumegante prato de arroz, feijão, bife e batata frita. Pode ser que tenha à sua frente, logo adiante, um banquete de 400 talheres caso o treinador aposte em sua entrada entre os titulares.
Renato é conservador. Treinadores costumam ser porque, como é a cabeça deles que rola, melhor que role pelas próprias ideias. Ao mesmo tempo, ele já mostrou que é capaz de fazer cirurgias na sua equipe. Foi assim que Arthur, por exemplo, ganhou vaga e virou o que virou. Não estou aqui comparando Arthur com Thaciano e sim os contextos em que cada jogador teve a oportunidade para se firmar. Arthur não deixou passar, ascensão fulminante, Barcelona. Não sei até onde pode ir Thaciano, mas sei que jogou o suficiente para virar candidato a mudar de turma dentro do Grêmio.
Em tempo: na vida, é preciso fazer como Thaciano quarta passada. Se a chance apareceu, seja lá de que chance estejamos falando, reconheça seu valor e dê tudo que tem para aproveitá-la. Pode não haver outra por muito tempo ou para sempre.