Pois esta coluna vai aparecer exatamente na véspera de Natal. Ou nas vésperas, porque já sai no sábado. Muitos hão de pensar, ué, essa senhora, com tudo o que já viveu, experimentou, passou, leu, aprendeu, curtiu ou sofreu, ainda acredita nisso?
Pois esta senhora acredita em fadas e duendes que de noite cochicham entre as árvores do meu jardim no Bosque de Gramado, acredita em anjos da guarda, acredita em Deus, seja lá como o quiserem definir: força suprema, mistério que envolve o mundo, enigma que criou e observa o universo com ar de pai meio divertido, meio compadecido... não importa. Em deuses, desses bonitos e humanos, deuses da alegria e do consolo, da água doce, do mar, da floresta, dos tesouros, dos ventos.
Acreditei em Papai Noel e Cegonha até uma idade vergonhosa na minha infância. O Coelho da Páscoa se foi mais cedo, pois ninguém me explicava como esse bicho, mesmo grandão, botava ou fabricava tanto ovo.
Seja como for, acreditar é bom, se for em coisas boas. Também acredito que, apesar de todo o mal que vejo no mundo – mais aquele de que não quero nem ouvir falar –, existe bondade, amor, solidariedade, compaixão. Também existe amigo, e família, e em horas difíceis, ah como é bom que existam. Não só pra curtir férias, churrascos, festas, praia, não-fazer-nada, como pra segurar a mão, dizer alguma coisa boa ou nem dizer nada, quando a dor aperta.
Então, como eu não acreditaria em Natal? Não sei se nasceu mesmo aquele menino lindo, de mãe virgem, me dava uma certa peninha de José não ser o pai, mas essas coisas a gente respeita e crença alheia pra mim é sagrada.
Mas acredito sobretudo no Natal como dia, noite, hora, em que se reúnem família e amigos, ou amigos e amigos, ou dois amantes, ou colegas, ou vizinhos, ou até desconhecidos, e trocam abraços, e se desejam um bom Natal, muitas vezes já incluindo um bom novo ano. Melhor do que este que está acabando, porque este quase acabou com a gente.
Mais honesto, mais confiável, mais leve, machucando menos, enganando menos, explorando menos, mutilando menos – ajudando mais, empurrando um pouquinho mais pra cima e pra frente os que estão no desalento. Sim, eu acredito que o novo ano deve ser abraçado nas pessoas queridas, que Natal é possível: pra quem deseja, gosta, acredita em solidariedade, alegria, convívio bom, e tudo que é jeito de amor.
Que este Natal seja manso.