O Inter líder do Brasileirão, com oito vitórias seguidas (incluindo o Boca) e há 10 jogos sem perder, é o Inter do Abel Braga. Mas é também a alquimia feita pelo técnico de alguns pontos altos dos times de Odair Hellmann e Eduardo Coudet.
Reside aí o grande mérito de Abel, de resgatar o DNA da segurança defensiva de 2018/2019 e incrementar com a transição rápida e, como no jogo contra o São Paulo, a marcação alta implementadas nos 10 meses da Era Coudet. O jogador vive de memória, de movimentos mecanizados pela repetição. É como um fichário. Tudo que é treinado e repetido à exaustão, fica arquivado no cérebro deles.
Quem aciona o gatilho é o técnico, ao desenvolver um modelo de jogo que resgate isso. O mérito de Abel, a partir do jogo contra o Boca, na Bombonera, foi justamente esse, de aplicar conceitos que já eram conhecidos. Ou seja, boa parte do caminho estava percorrido. Essa química não aconteceu, por exemplo, quando tentou adotar o 4-2-3-1.
Na defesa, por exemplo, Moledo e Cuesta formavam com Odair uma das duplas de zaga mais seguras do Brasil. À frente deles, atarraxou Rodrigo Dourado, outro que sabia como se movimentar no 4-1-4-1. O mesmo pode se dizer de Edenilson e Patrick.
Assim, resgatou a espinha dorsal de um time reconhecido pela solidez defensiva. Para a outra fase do jogo, a ofensiva, Abel aproveitou o legado deixado por Coudet, de um time vertical e de transição rápida até o gol.
O modelo de jogo do Inter é claro: linhas retraídas e próximas, muita marcação e, na recuperação da bola, saída em alta velocidade. O primeiro gol no 2 a 0 sobre o Ceará resume bem essa ideia de jogo: Edenilson recebeu de Dourado antes da linha divisória, deu três toques na bola e acionou Caio Vidal, que corria entre o lateral e o zagueiro.
Contra o São Paulo, o quarto gol veio em troca rápida de passes: Praxedes, Edenilson e Peglow, que encontrou Yuri Alberto entre os zagueiros. O terceiro já havia sido fruto da marcação alta, com Dourado dando o bote quase na meia-lua, de ataque, em Vitor Bueno. Algo que, por 10 meses, foi muito treinado no Beira-Rio.
Ou seja, Abel buscou dentro do próprio vestiário uma ideia de jogo e, com a percepção que só o tempo dá aos treinadores, uniu o útil ao agradável. Acrescentando, é claro, uma pitada de carinho e gestão de grupo, o que é uma de suas especialidades.