Exigente, temperamental, sem freio na língua e minucioso nas questões táticas. Assim é o português Jorge Jesus, 65 anos, o técnico buscado pelo Flamengo no outro lado do Atlântico para recolocá-lo no caminho dos títulos. As primeiras semanas de Jesus no Ninho do Urubu já serviram para ele mostrar suas credenciais aos jogadores. A intensidade dos treinos, sempre direcionados para incutir seus conceitos de jogo, e a severidade com que faz as cobranças provocam alguns muxoxos no grupo.
O estilo apresentado no Rio já é bem conhecido em Lisboa. Foi com ele que Jesus se tornou o principal técnico em atividade em Portugal na última década. Uma ascensão que ocorreu de forma tardia. Depois de circular por divisões menores e obter acessos, só a partir de 2005 passou a ganhar algum destaque em clubes médios. Fez boas campanhas com União de Leiria, Belenenses e Braga. Boas campanhas entende-se ficar entre quinto e sétimo. No caso do Belenense, foi vice da Taça de Portugal. Com Braga, caiu nas oitavas da Liga Europa 2007/2008.
Tudo isso o levou ao Benfica na temporada seguinte. Foi quando o português virou top de linha em seu país. Pelas mãos dele, o Benfica saiu de freguês do Porto a todo-poderoso em Portugal. Foram seis temporadas no Benfica, com três títulos portugueses, uma Taça de Portugal e 5 Taças da Liga. Virou o treinador mais longevo na história do clube, o com mais vitórias (225) e mais títulos.
Os números fariam dele um rei no Estádio da Luz. Só que em 2016, ele trocou o Benfica pelo Sporting. É como alguém sair direto do Inter e ir para o Grêmio – ou vice-versa. A mudança não surpreendeu. Entrou para sua coleção de polêmicas, como a briga com um jogador do Marítimo, ao final de uma partida, e o enfrentamento com a polícia para livrar um torcedor do Benfica que havia invadido o campo ao final de uma vitória sobre o Guimarães fora de casa. Pelo Sporting, também teve um entrevero com Jonas, ex-Grêmio, que havia sido seu principal jogador no Benfica. Tempos depois, os dois se acertaram e ajustaram os ponteiros.
Seguidor das ideias de Johan Cruyff, com quem estagiou no início da carreira, Jesus gosta que seus times sejam velozes e ofensivos. Em Portugal, costumava usar um 4-1-3-2. Aplica algo parecido no Flamengo, fazendo de Arão um meio-campista avançado. A experiência no Brasil foi a chance de trabalhar com a qualidade técnica dos nossos jogadores, sempre admirada por ele. Agenciado desde janeiro por Pini Zahavi, israelense e um dos maiores empresários do futebol europeu, o português revelou dias atrás proposta do Newcastle antes de chegar ao Flamengo.
Jesus assinou com o Flamengo por um ano. Segundo a imprensa portuguesa, receberá 4 milhões de euros anuais (R$ 17,9 milhões), mais 3 milhões de euros (R$ 13,4 milhões) em bônus por conquistas – uma delas, já ficou para trás, a Copa do Brasil. No Rio, contará com regalias, como um motorista particular, e casa em condomínio fechado. A mulher e os três filhos ficaram em Portugal. Mas eles, assim como os dois netos, virão para visitas frequentes.