É alarmante o descaso com um cenário comum em diversas cidades brasileiras: os fios e cabos soltos de luz e telefonia, pendurados de forma precária em postes. Recentemente, a tragédia atingiu Matheus Matozo Soares, de 24 anos, que morreu ao se enroscar em um fio energizado no bairro Mathias Velho, em Canoas, enquanto seguia para o trabalho de moto.
Uma rápida pesquisa revela que esse problema é generalizado pelo país. Em um levantamento realizado este ano pelo Instituto de Defesa de Consumidores (Idec) para o GLOBO, um dado chocante se destaca: de 2009 a agosto de 2024, mais de 4 mil pessoas morreram no Brasil devido a ocorrências ligadas a fiações soltas.
Embora, de tempos em tempos, assistamos a mutirões destinados à limpeza desses emaranhados de fios, é evidente que tais esforços são insuficientes. Em Porto Alegre, a prefeitura expressa sua insatisfação com a diminuição da colaboração das empresas de energia e telefonia nesses esforços. Em resposta, a justiça tomou a acertada iniciativa de exigir maior participação das empresas nos mutirões. Que isso se concretize.
Em Canoas, o Jornal do Almoço já havia destacado, há um ano, as queixas dos moradores. Recentemente, a equipe voltou à cidade e constatou que pouco foi feito. Apesar de as concessionárias e empresas de telefonia serem as principais responsáveis, as prefeituras não podem se eximir de suas obrigações. É essencial que os municípios façam cobranças públicas e, se necessário, recorram à justiça. Um esforço coordenado de todos os envolvidos é crucial. Agências reguladoras e o Ministério Público também devem agir.
E não se trata apenas dos fios. Os postes estão igualmente à mercê da negligência. É comum encontrarmos gambiarras para mantê-los estáveis. Há mais de 4 anos, passo por um desses na Avenida Diário de Notícias, na capital. Após um acidente de carro, o poste entortou e até hoje permanece em pé. Ele é sustentado por um tronco de madeira, com a base completamente comprometida e os ferros expostos. É o provisório que se tornou definitivo. A sensação é de que pode sucumbir a qualquer momento. Não é apenas uma questão estética ou de poluição visual. Trata-se de salvar vidas e evitar novas tragédias.