No início do século 20, Pelotas, no sul do Estado, era uma potência cultural. A cidade chegou a ter mais de 30 salas de exibição, entre cinemas de calçada, cineteatros e teatros. A maioria delas acabou fechando as portas com o passar dos anos. Para mapear esses lugares e resgatar a história, um grupo de pesquisadores criou o projeto Pequeno Inventário de Plateias.
Com curadoria de Tainah Dadda e pesquisa de Renato Cabral, a iniciativa envolverá investigação documental, em busca de arquivos históricos, arquitetônicos e jornalísticos sobre o tema, e a coleta de depoimentos de pessoas que frequentaram os locais.
Nesta quinta-feira (20), será lançado o convite para que os pelotenses participem, contando o que lembram. A intenção é selecionar dez histórias, que serão registradas em áudio. As inscrições devem ser feitas pelo site inventariodeplateias.com.br, que entrará no ar ao longo do dia.
No dia 25 de maio, será a vez de artistas visuais locais se inscreverem para produzir obras que dialoguem com os depoimentos. Dez trabalhos, acompanhados dos áudios dos relatos, serão apresentados em uma exposição com abertura prevista para 8 de agosto, na Secretaria Municipal de Cultura.
Entre os locais sobre os quais há grande interesse, está, é claro, o famoso Theatro Sete de Abril, inaugurado em 1834 e fechado em razão de obras intermináveis de recuperação (se não tivesse sido interditado em 2010, seria o mais antigo do país em operação).
À época, Pelotas era uma cidade próspera, baseada na produção das charqueadas, cuja riqueza (escravagista, diga-se de passagem) alimentava hábitos burgueses. Pela localização estratégica entre o centro do país e as capitais do Uruguai e da Argentina, o espaço entrou no circuito das grandes atrações e companhias que transitaram do Rio a Porto Alegre, com destino a Montevidéu e Buenos Aires.
Outro marco que deverá entrar na pesquisa é o Teatro Guarany, inaugurado 1921 com a apresentação da ópera de mesmo nome, criada por Carlos Gomes. As exibições de filmes no local ocorreram até 1996. O espaço vivenciou todas as fases que marcaram a trajetória dos cinemas de calçada no Brasil, do auge à decadência. Hoje, funciona apenas como teatro e cenário para espetáculos de música, dança e solenidades de formatura.
O Pequeno Inventário prevê, ainda, a distribuição de um mapa acessível com os espaços pesquisados. Será uma espécie de "percurso urbano", para quem quiser encontrar os locais exatos dos dez depoimentos. Esses pontos serão sinalizados por um QR Code.
Cronograma
- 20 de março: lançamento das redes sociais (@inventariodeplateias) e site inventariodeplateias.com.br
- 28 março a 27 de abril: convocatória para a escolha dos relatos, com inscrições no site
- 25 de maio a 25 junho: chamado para artistas visuais que queiram participar. Inscrições também pelo site
- 8 de agosto a 8 de setembro: exposição de Pequeno Inventário de Plateias na Secretaria da Cultura de Pelotas (Praça Cel. Pedro Osório, 2, centro da cidade)
Ficha técnica
Pequeno Inventário de Plateias
- Curadoria e pesquisa: Tainah Dadda
- Pesquisa e identidade visual: Renato Cabral
- Produção executiva, web design e fotografia: Aruna Cruz
- Produção executiva e edição de áudio: Gustavo Cunha
- Assistência de produção e identidade visual: Patrick Tedesco
- Técnico de gravação: Bruno Chaves
- Social media: Vitória Proença
- Assessoria de imprensa: Roberta Amaral
- Mediação da exposição: Grupo Patafísica
O projeto Pequeno Inventário de Plateias é realizado com recursos da Lei Paulo Gustavo.