Uma cidade muda, quando a gente vê de longe? Nas últimas semanas, o fotógrafo Jeff Botega e eu percorremos terraços de Porto Alegre para ver (e mostrar) ângulos inusitados da Capital, que nesta semana completa 253 anos.
Começamos observando a urbe de um prédio histórico: o terraço do Palácio Piratini, sede do governo gaúcho. Ali, ao lado da cúpula da Igreja Matriz, o som do trânsito sussurra. Ouvimos o alarido das gaivotas fazendo algazarra e o canto do gavião — que, incomodado, persegue o drone de Jeff, enquanto captamos imagens. Do alto, a ave também observa.
É fim de tarde. A cidade está pintada de pôr do sol. Os vidros dos prédios brilham. A água do Guaíba é espelho (até parece limpa). Luzes e sombras revelam novas formas. No horizonte, a paleta de cores se transforma: azul, amarelo, laranja, magenta.
Do alto, Porto Alegre é diferente.
Seguimos a jornada. É outro dia. Agora, estamos no topo de uma torre de 40 metros. Subimos 160 degraus em caracol, em uma escada estreita e claustrofóbica. Saímos no ponto mais alto da Igreja de Santo Antônio do Partenon. Estamos acima dos sinos, junto à cruz, em um terraço de 10 metros quadrados de onde se tem uma visão completa da Capital.
Porto Alegre é outra.
Daqui, vemos a cidade rica e a cidade pobre. De um lado, estão os Moinhos de Vento com seus edifícios imponentes e, do outro lado, as favelas polvilhando morros. É curioso como o dinheiro e a falta dele esculpem a paisagem. Mas o sol, ah, o sol nasce e se põe para todos. Basta estar vivo.
Subimos de novo, dessa vez são 11 andares e dois lances de escadas de ferro estreitas, uma interna, outra externa. Nos altos da Avenida Independência, artéria urbana onde corre trânsito pesado, chegamos ao teto de um prédio residencial: o Edifício Santo Ângelo, na parte mais alta da via.
Sem fôlego e com medo, suspiro diante do para-raios, sentindo vertigem. Eu paro. A cidade, não. Nem por um minuto.
Ao longe, o avião se aproxima e dá a impressão de que vai beijar a chaminé do Shopping Total, onde tremula a bandeira do Rio Grande. A buzina grita, o caminhão acelera, o barulho de sirenes se impõe. O vento é forte. Sento-me no chão, respiro. Admiro.
Alheias a tudo, as árvores da Rua Gonçalo de Carvalho, que os porto-alegrenses definem (não tiro a razão) como “a mais bonita do mundo”, farfalham. Shhhh... A cidade anoitece, para começar tudo outra vez.
Feliz aniversário, Porto Alegre.